domingo, 27 de dezembro de 2020
DEZEMBRANDO
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
SIMPLESMENTE CHOVIA
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
O APEADEIRO DA BEMPOSTA
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
A VOZ OCULTA DA LUZ
terça-feira, 24 de novembro de 2020
EM PLENO VOO POR UM GRÃO DE AREIA
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
DIA DE SEMENTEIRAS
domingo, 8 de novembro de 2020
CUMPRIR ESTE CHÃO
domingo, 1 de novembro de 2020
MAR
domingo, 25 de outubro de 2020
APENAS UM TRAÇO
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
NÃO HÁ ESPAÇO PARA CANTAR
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
domingo, 27 de setembro de 2020
APRENDIZES DO VOO
Quando te disse
os nossos milagres são fáceis de explicar
o Outono entrou no corpo
das romãzeiras
e ao sabor de um gesto simples
brotaram na tela
traços de aguarelas
foste o meu modelo preferido
só porque trazias no regaço
inquietudes de pétalas
e o mar ficou mais azul
e os barcos mesmo desfolhados
continuaram a remar
na flor dos relâmpagos
Quando te disse
meu amor como te chamas?
transgredimos tantos silêncios
que ainda hoje
quando te pinto
somos água de beber
na boca das sementes
tão sábios aparente mente
à tona dos pássaros
aprendizes do voo
a contar pelos dedos
bagos de romã
eufrázio filipe
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
NEM TODOS OS CÃES SÃO DE BARRO
A minha escarpa tem uma janela para o vento entrar de preferência com relâmpagos.
Quando troveja inconformado abro a porta que dá para o alpendre e os Serra da Estrela vertiginosos avançam amedrontados.
Aninham-se nos tapetes da sala.
De alma lavada e farto pêlo,entram casa adentro, sacodem-se vivificam as paredes onde me acompanham um óleo de Kiki Lima outro de Albino Moura, pratos alentejanos, uma falua em casca de ostra, uma estatueta da Papua Nova Guiné, o velho relógio de pêndulo, um poema de Eugénio de Andrade.
Quando o sol se esconde, troveja e os céus se derramam, a minha escarpa alumia-se.
Os Serra da Estrêla deitam-se e ressonam nos tapetes até eu pegar no sono e acordar a fazer poemas ou quase nada.
Lá fora imperturbável (e)terno a dizer coisas improváveis - o meu cão de barro - resiste em vigília ao tempo que faz.
eufrázio filipe
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
A CADEIRA VAZIA
quarta-feira, 2 de setembro de 2020
RESGATAR UM BEIJO
Rodeado de mares
contra todos os destinos
caminho por sobre as águas
à semelhança dos barcos
de quando em vez
regresso à minha escarpa
só para ver
Rodeado de mares
nesta ilha candente
ainda há espaço para cantar
levar o pão à boca
resgatar um beijo
eufrázio filipe
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
NO ANVERSO DAS PALAVRAS
Regressados aos sulcos conhecidos
de tantos mares desnavegados
lá estavam os pássaros
em festa
no chão flamejante
íntegros e vermelhos
no bico dos teus seios
onde florescem româzeiras
no anverso das palavras
eufrázio filipe
terça-feira, 28 de julho de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
PÉTALA DESPRENDIDA
Para celebrar o hino
apócrifo do vento
nos barcos desgrenhados
respirámos fundo
a essência dos sargaços
e o mar inteiro
sem idade
mal cabia nas nossas mãos
Estávamos tão íntegros
a hastear velas
no branco inconsistente das salivas
a riscar sulcos na água
garatujas nas paredes do cais
que não contive
nos teus olhos
uma pétala desprendida
eufrázio filipe
(2012)
terça-feira, 14 de julho de 2020
COMO TE VEJO (2)
Na dissonância do tempo
caminhamos
sempre a desnascer
surpreendemos máscaras
que se multiplicam
coladas à flor da pele
as mesmas que os barcos
desvendam
no chão das águas
e as aves perseguem
nos mastros
conforme o dardejar do vento
Na dissonância do tempo
ainda não aprenderam
os meus olhos
a verem-te como és
tão só como te vejo
eufrázio filipe
segunda-feira, 29 de junho de 2020
CONTRA OS MEDOS
Quando as mãos no barro
constroem sonhos
de todas as cores
e no branco de uma folha
de papel
se desenham palavras inteiras
vem à tona a luz
muito para lá
da aparente insignificância
de plantar uma flor
mais vermelha
que os teus lábios
Quando o vento sopra
por entre os dedos
é urgente remar
contra os medos
seduzir a boca das sementes
eufrázio filipe
segunda-feira, 22 de junho de 2020
TORRE DE MENAGEM
Há muitos anos comprámos
na Praça de S. Marcos
uma boneca que fingia ser anjo
e tocava violino
Colocámo-la na mesa de cabeceira
porque afagava bem as cordas
e nos despertava
Todas as manhãs lhe desejávamos
bom dia
num ritual ininteligível
e tudo ficava mais claro
Ainda hoje
com outros olhos começámos a ver
os mesmos retratos nas paredes do cais
a dardejarem na intimidade dos sonhos
com outros olhos
pequenos deuses tangíveis
plantámos árvores e barcos
e começámos a beijar
no chão que pisamos
as belas flores do jacarandá
Ainda hoje
nesta torre de menagem
bastou um sopro para agitar os pássaros
nos mastros mais altos
e a boneca na mesa de cabeceira
eufrázio filipe
segunda-feira, 15 de junho de 2020
A CASA É UMA MÁSCARA
Sincopada a chuva caía
sacodia as folhas da cerejeira
acariciava o despontar das camélias
quando pressenti que estava
no avesso do tempo que faz
já tinha aberto as portas
mas tu entraste pela janela do vento
percorreste todos os silêncios da casa
em espirais vertiginosas
até pousares devagar
sobre a mesa do alpendre
trazias nos olhos um sol de mãos cheias
um certo cansaço no trinado da voz
longas maresias
afaguei-te a plumagem
à vista dos cães
e disse baixinho para não acordares
a casa é uma máscara
todas as casas são máscaras
que assustam os pássaros
menos a ti
eufrázio filipe
quinta-feira, 11 de junho de 2020
terça-feira, 2 de junho de 2020
ARTESÃO DE METÁFORAS
Nas margens do rio
onde habito
respiram pautas desertos
retratos íntimos de flores
a preto e branco
repousam mãos famintas
nas margens deste rio
quando a noite amanhecida
não dorme
ouvem-se pêndulos vagares
cadenciados
agitam-se os dedos
o tempo ousado dos poetas
que não eu
artesão de metáforas
No fulgor das águas
desprendo-me
para ver mais claro
o teu corpo antigo baloiçar
nas paredes da casa
porque tudo é sempre novo
eufrázio filipe
segunda-feira, 25 de maio de 2020
VIGÍLIA AO IMPROVÁVEL
Quando te despiste em flor
e revelaste a nudez
já despontavam as camélias
não por dádiva dos céus
na vertigem das sombras
muito menos porque o mar
se ergueu
num sussurro de azuis
tão só depurada
trazias gestos musicais
a noção de um rio
que se demora nas margens
Quando te despiste
quase inocente
numa povoação de sílabas
não desnudaste
o mais íntimo da pele
ficaste em vigília ao improvável
tão perto dos mastros
onde dardejam pássaros
e profanam metáforas
eufrázio filipe
sábado, 16 de maio de 2020
sexta-feira, 8 de maio de 2020
ÍNGREME O CAMINHO DAS PEDRAS
Estavam no cais
os barcos adormecidos
etéreos
quando partimos
por sobre as águas
sem fim à vista
foi assim
lá onde os olhos sem amparo
se consentem demorados
assistimos à passagem
de um sopro de vento
Neste leito de sussurros
a primitiva chama
navegava
todos os degraus da escarpa
foi assim
tresmalhadas as pátrias
e os amores
chegámos à fala
de mãos dadas
no íngreme caminho das pedras
eufrázio filipe
sábado, 2 de maio de 2020
ETERNAMAENTE A RESPIRAR
Nem todos os jacarandás
rebentaram em Maio
mas tu cumpriste
o ritmo das estações
contra o tempo que faz
vestiste-te de púrpura
com cheiro a hortelã
sentaste-te no meu silêncio preferido
dedos esguios em flor
a crescerem nas teclas do piano
nem todos os jacarandás
rebentaram em Maio
porque não existem horas para amar
porque é possível pintar
uma flor com a boca
na tua boca
e ficar assim
eternamente a respirar
eufrázio filipe
"Chão de claridades"
domingo, 26 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
segunda-feira, 13 de abril de 2020
terça-feira, 7 de abril de 2020
NO PESTANEJAR DE UMA VÍRGULA
Olho-te como se fosse a primeira vez
na verdade a água
corpo líquido de mulher
tem segredos escondidos no fundo das pedras
alimentos de fogo
talvez uma praia onde se fundem
areias e lábios
um piano de luzes
que determina o tempo das estações
ainda bem que tens ilhas selvagens
sinais apócrifos que se desnudam
em gestos simples
no pestanejar de uma vírgula
na verdade a água sabe rir e chorar
no espelho das próprias lágrimas
no rumor das maresias
e eu descobri uma vez mais
que tens poros por onde respiras
silêncios escarpas por onde escorrem salivas
que te ergues e desmoronas
abrigo e mensageira
te desprendes do chão
ou hibernas nos corais
que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez
e deixar por um instante
a outra água
para os peixes se moverem
eufrázio filipe
"Chão de claridades"
editora Lua de marfim
sexta-feira, 3 de abril de 2020
AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA
O Homem criou deuses para sua salvação mas é no silêncio dos laboratórios
que os cientistas trabalham para a descoberta de mais uma vacina.
Ajudá-los é não sair de casa (quem a tem) não sair à rua mesmo que a casa
tenha vistas para um jardim
sendo certo que muitos, antes deste vírus, morriam e morrem saudáveis
em tantos silêncios.
A vida é uma passagem?
Amanhã será outro dia.
eufrázio filipe
segunda-feira, 30 de março de 2020
sexta-feira, 27 de março de 2020
OS VÍRUS TAMBÉM SE ABATEM
Não será o fim do mundo, mas neste cataclismo, o novo vírus
sem fronteiras, desestabiliza e mata.
Mesmo que contribua para desapear Trump, Bolsonaro e outros trangénicos,
mesmo que confirme uma Europa não sufragada que nunca foi um projecto
comum e solidário - o bicho -
impõe que fiquemos sequestrados
mas nós sabemos que os vírus também se abatem.
Haja pontaria.
eufrázio filipe
terça-feira, 24 de março de 2020
sexta-feira, 20 de março de 2020
QUE FAZER PARA NÃO MATAR OS PÁSSAROS?
De "quarentena" voluntária há anos, agora obrigado , aparei a barba e já não me apetece estar sequestrado no paraíso .
Cumpro as regras do chamado "afastamento social" mas convicto que o desemprego não mata o vírus , admito que a verdadeira pandemia chegará após o chamado "estado de emergência" .
Que fazer para não matar os pássaros?
Talvez soltá-los
eufrázio filipe
quarta-feira, 11 de março de 2020
AMPLAS CLARIDADES
A última folha do Inverno
em pleno voo
cansada de todos os brilhos
libertou~se
quase etérea
num dédalo de luz
Ariadne desvendou os seus contornos
na inocência dos espelhos
celebrou por instantes
amplas claridades
e os barcos
para afagarem a sua nudez
se fizeram ao mar
eufrázio filipe
" Chão de marés "
segunda-feira, 2 de março de 2020
CUMPRIR ESTE CHÃO
Passo a passo
a desbravar caminhos
na vertigem das marés
andas desandas tropeças
constróis pontes
precárias definições
passo a passo
até acontecer uma pedra
com vida por dentro
Sabes que não existem pedras
com vida por dentro
mas continuam a andar
os teus pés
passo a passo
a cumprir este chão
eufrázio filipe
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
terça-feira, 18 de fevereiro de 2020
ANTES QUE O INVERNO ACABE
Não fixes os olhos
onde desnascem pedras
e em bando se precipitam os pássaros
vem afagar os cães
o coração dos meus barcos
deixa que abrupta a chuva
em desalinho rasgue neblinas
quebre silêncios
recolhe os sons da água
e os latidos
até que se encham os cântaros
rebente de vez a indiferença
dos ranchos
vergados a decepar videiras
deixa que tudo se mova
vem amar esta terra
às mãos cheias
mesmo que a voz se deite em surdina
para mais tarde acordar
a partir do chão
deixa que abruta a chuva caia
de preferência com relâmpagos
para te incendiar
o rancho se levantar
e as videiras ganharem mais força
vem
faça sol ou chuva
antes que o Inverno acabe
eufrázio filipe
(CHÃO DE MARÉS)
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
OS NOSSOS MILAGRES
Muito antes da casa
aqui passava um rio
nas margens
cohabitavam romãs
simplificando
aqui nas paredes da casa
não passa um rio
não há romãs
mas de tão desejadas existem
repartem-se como pão
bago a bago
nas nossas bocas
e assim aprendemos
com as mãos
os nossos milagres
tão fáceis de explicar
eufrázio filipe
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
ATÉ A LUZ SE FAZER DIA
Com barcos às costas
num sopro de vento
de porto em porto
a dobrar esquinas
a desbravar marés
a comer pedras sem destino
construtores de lonjuras
irreprimíveis
para lá das taprobanas
contra torvelinhos
silvestres
a domar escarpas
ao sabor das aves
que de tão abruptas
só poisam nos mastros
Num sopro de vento
andamos a desbravar
arestas ruínas tempestades
até as águas correntes
se libertarem das crinas
invadirem o chão
para desassossego das sombras
de porto em porto
até a luz se fazer dia
eufrázio filipe
(chão de marés)