terça-feira, 25 de setembro de 2012

EM PLENO VOO POR UM GRÃO DE AREIA





Não são únicos os caminhos

mesmo quando se cumpre
a rota dos sonhos
e os barcos se despem
de destinos por sobre as águas

Já tínhamos visto longe
a céu aberto
palavras íntegras a respirar
por guelras
pétalas a despontar nos desertos
mares a gorjear
na folhagem das escarpas
noites claras
ao som do relógio de pêndulo

Não são únicos os caminhos

mesmo quando andamos
a sibilar no vento
desapercebidos do pássaro
que renasce em pleno voo

por um grão de areia



 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O GRITO DAS SEARAS




No esplendor das águas doces
aparentemente mansas
tão brancas de espumas
e véus de noiva
as crinas do vento
para espanto dos pássaros
tornam-se sílabas itinerantes
melómanos
de silêncios incontidos
 
arredondam arestas
afagam pedras
despertam em cascata
por instantes
o grito das searas
 
 


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

NÃO HÁ ESPAÇO PARA CANTAR




 
 
Hoje não escrevo
alguém
escreva por mim
 
Neste bairro
não há espaço
para cantar
 
  

 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O VINHO DOS AMANTES



                                      Malhoa



Neste mar de searas
a espumar sede
na boca das sementes
procuro um relâmpago
para incender a noite
com um grito
despertar as estrelas
que dormem no chão

Esta terra precisa
ser fecundada às mãos cheias
no mais íntimo da pele
rasgar em pleno voo
os seus anjos preferidos
poisar nos galhos
contra os medos
dessedentar um grão de areia
e subir aos mastros

Neste mar de searas
e ventos mínimos
as uvas vindimadas nas escarpas
ainda hoje sangram
aos pés do povo

servem à mesa
o vinho dos amantes