sexta-feira, 26 de outubro de 2012

CHUVA NA BOCA DOS AMANTES






Transumantes de silêncios
filtram ventos
na folhagem
latidos de cães
nos mastros ancorados

temperam relâmpagos
com arremesso de pedras
aos pássaros

apascentam desertos
povoados de estrelas
legitimam os céus

Herdeiros de silencios
afloram
paletas de searas
dão de beber às fontes
às pedras esculpidas

à chuva
na boca dos amantes


 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ROSA DE SAL





Neste chão de ressonâncias
marés vivas
marnotos
marinhas valentes
e outros relâmpagos
transportámos
um sol de mãos cheias
à cintura um mar de sargaços

Nus de tudo
soprámos o espinho
que nos sangrava as pétalas

descobrimos as mãos
e os lábios
ao entardecer

dulcíssimos
oferecemos ao rio
uma rosa de sal


 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MANUEL ANTÓNIO PINA



Morreu um Homem

mas não morreu o Poeta

Não deixemos morrer os nossos mortos

 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRESOS A UM SOPRO DE VENTO






Na véspera dos relâmpagos
os pássaros são eternos
conforme os apeadeiros

renascem ao som da folhagem
oferecem o corpo inteiro
e o desejo

pestanejam vírgulas
lábios remos e passos
numa cadência de asas

Na véspera dos relâmpagos
o mar organiza outros azuis
utopias em movimento

amplas claridades

sem âncoras nem limites
como nós
presos a um sopro de vento



 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

SEM DONO NEM DESTINO





Trago à palavra
a queda de uma folha

Estava a vê-la
transportar desamores
à pergunta de um sopro
que a libertasse do galho da videira

Foi hoje
pé ante pé
no torpor do sono

Sem dono nem destino
simplesmente caíu
para alumiar o chão
onde se deita

 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

UM CHÃO DE ESTRELAS





Solta de cores
participa espontânea
na construção de linguagens
a preto e branco

No Outono a minha árvore preferida
fica mais leve de palavras
chega a passo
desnuda-se da folhagem
para desafiar o vento
a soletrar hinos incomensuráveis
pelos dedos

vem habitar
um chão de estrelas