quinta-feira, 31 de maio de 2007

ALBARDAM O POVO À VONTADE DO BURRO


desenho de Rafael Bordalo Pinheiro








Ninguem foi obrigado a fazer greve,mas muitas centenas de milhar foram obrigados a não fazer greve.

5OO mil desempregados,milhares nos serviços obrigatórios minimos,parte significativa de um milhão de trbalhadores a recibo verde,parte dos que trabalham em regime de medo,

parte dos que trabalharam por não poderem prescindir de um dia de salário,centenas de serviços públicos que apenas abriram as portas para figurarem nas estatísticas.

O governo e os seus poderes centrais - é verdade - nesta

sociedade mercantil e modernaça - transformam pessoas em

mercadorias,não interpretam os sinais evidentes do descontentamento geral - fingem que não têm a cabeça na areia

albardam o povo à vontade do burro.

Até quando?

terça-feira, 29 de maio de 2007

domingo, 27 de maio de 2007

DE VIGILIA EM VÃO


foto mgrande/isis







Descalço tambem eu corri

desertos marés palavras e ventos

só para te ver

formosa duna





Colar de limos ao pescoço

quase vegetal colada às pedras





estavas de vigília em vão





porque o mar já tinha invadido

os bosques mais restritos da cidade

a luz inocente dos teus cabelos em chama





ou como se diz





já ardiam na praia

os nossos barcos preferidos





Descalço também eu corri

do ventre até à foz por todas as rotas

só para te ver

formosa duna





Estavas a dormir silvestre no chão

tão livre de fronteiras

por entre os meus dedos de areia





Estavas de vigília em vão

sábado, 26 de maio de 2007

MARIO LINO - ENGENHEIRO NA ORDEM






Agora na penosa travessia do deserto - com menos poeira-

o ministro Mario Lino - por ordens superiores - peregrina nas televisões,rádios e jornais a dar razão aos protestos do poder local,face ao seu desaforo.

Sequioso na sua circunstancia e na tentativa de pôr água na fervura - lá vai penosamente - a pedir desculpas - deserto fora.

Entretanto e porque o fogo não se apaga assim - considero

que deu um bom contributo para a indignação na greve geral.

Obrigado Mario Lino - nem tudo foi mau

quarta-feira, 23 de maio de 2007

MARIO LINO - MINISTRO CAMELO




Hoje Mário Lino ministro engenheiro deste governo deu a conhecer ao país a sua tragi-comédia.Estrábico,ofensivo,obsceno e talvez
pressionado,coisificou a península de setúbal,desertificou a margem sul
do Tejo para justificar a sua OTA.
Disse o sr ministro que deste lado do Tejo - nem pessoas,nem escolas,nem hospitais,nem hoteis,nem comercio,nem cidades - só deserto.
Foi à hora do almoço - só faltava dizer que a peninsula de setúbal
é a áfrica branca da europa - um deserto de areias sol e mar - neste
país à beira mar betonado,imenso,desenvolvido - com a OTA - tão
linda e aqui tão perto.
Mário Lino ministro e engenheiro de facto tem uma atenuante
porque exibiu-se de corpo em pé,de chapéu,sem cabeça.
Obviamente - assim- a diarreia mental - não o pode constituir
arguido - mas não deixa de ser um ministro camelo

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O BOTIM

desenho de Mário Filipe




Estou a ver a Plaza Mayor, em Madrid. Um belo e amplo espaço rectangular, bordejado de edificios ancestrais, com a mesma cércia. Todos em pedra, madeiras e ferro forjado. Uma longa galeria de lojas a espreitarem pelas arcadas os artistas que por ali trabalham. Um espaço nobre recuperado para a vida, onde apetece ler um livro, ouvir música, nas amplas esplanadas ou sentir o prazer de não fazer nada.

Desta vez e ao contrário do que esperava, a Plaza Mayor estava deserta de tudo. Incrível - até os pombos tinham abandonado o seu poiso preferido na estátua equestre, imponente no centro da praça.

Surpreendido sentei-me num degrau do pedestal da estátua, mesmo por baixo da cabeça do cavalo - para assistir ao lento cair da noite e rascunhar um apontamento para dar voz a tanto silencio.

- ( o silencio é mais verde que o musgo que medra nas fissuras das pedras - paira em todos os poros,habita e dança ao ritmo do pó.
Talvez por isso me apeteça desandar nos teus pés, espreguiçar-me nas ameias do meu castelo preferido e respirar o brilho gaiato dos teus olhos na folhagem. Talvez por isso me apeteça soprar-te nas pétalas para ver estrelas no céu, ouvir Norah Jones, atear uma fogueira e viajar tranquilo por toda as azinhagas).

De súbito - um clique uníssono e estridente acendeu os candeeiros públicos. Despertei da bela letargia - interrompi o rascunho.

Levantei-me - dei ainda duas voltas pelas galerias, subi e desci escadarias centenárias, confirmei o deserto.

Inesperadamente tropecei no Botim - considerado o mais antigo restaurante do mundo, na rua dos Cuchilleros.

Quando entrei a porta de madeira rangeu. Imediatamente comecei a gostar da visita a esta catedral da gastronomia - um casamento feliz onde respirei o conforto dos espaços compartimentados, a cozinha rasgada para os olhos, a extrema simplicidade do bom gosto.

Manolo de la Peña, cem quilos de peso à vista desarmada, bochechas avermelhadas pelo forno da lenha e farda branca a rigor, passeava as suas banhas e simpatia pelas mesas dos escassos clientes.

Chegou entretanto a minha vez de ser atendido.

- Sabia que o símbolo de Madrid foi extraído da lenda do urso e do medronheiro? Aconteceu um conflito medieval entre os poderes do reino e eclesiástico com o povo calado mas atento. Ambos queriam a posse da terra - como se não fosse de quem a trabalha. O medronheiro parece ter sido inventado mas o urso ainda existe.

Tentei entender a explicação do Manolo e até lhe falei do nosso Bordalo Pinheiro enquanto partilhávamos sorrisos. Ainda tentei esclarecer o insólito deserto da Plaza Mayor quando de repente as luzes do Botim se apagaram.

No lusco-fusco das velas o Manolo ia dizendo quase em surdina - senhores hay mierda.

Com delicados empurrões lá fui com os outros - porta fora.

De facto o Botim fechava a porta - que desta vez não rangeu.

Na rua dos Cuchileros alguem vociferava àcerca do rebentamento de dois petardos na cidade.

Surpreendentemente ingénuo - percorri de novo as galerias desertas e tentei compreender melhor as pedras da calçada, o isolamento da estátua equestre, a fuga dos pombos, o preço da refeição,o tratado de Mashstricht, a boina basca nas montras dos turistas, a vontade incontornável de um povo pela condução dos seus próprios destinos, a minha coluna vertebral e o desaparecimento do meu rascunho.

No dia seguinte, o Botim - alquebrado pelos anos - cuidava das artroses mas resistia na memória das pedras, com trabalhadores gentis perfilados junto à cozinha.

Com a naturalidade possível dirigi-me a uma das salas e amistosamente declarei:

- Senhor Manolo, a história do urso e do medronheiro é uma lenda ou a coisa existe em versão modificada nos dias de hoje?

Para meu espanto ,da cozinha, uma voz feminina, serena mas firme lia o meu apontamento:

- Sopro-te nas pétalas para ver estrelas no céu.

E eu - saí.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

MAR DE MIM

Contra o sabor do vento que faz
metemo-nos mar adentro por sobre as águas
no caminhar dos barcos
olhos postos
no incógnito porto de outros destinos
Inseguros neste chão de azuis
céus tresmalhados
nesta pátria de naufragos e outros amores silvestres
partimos
a rasgar vagas neblinas afetos
sem pausas
a namorar outros infinitos
no desejo de um barco
onde se possa subir os mastros
só para ver
onde nos consentimos
mar de mim
(Óleo de Théodore Géricault - A balsa de Medusa)

sábado, 12 de maio de 2007

NO GRITO DAS MARÉS







Nos olhos um mar infinito de palavras soltas



faúlhas e rumores de vento



onde quedos se agitam por dentro



barcos ancorados





Nas velas recolhidas um perfume de algas



onde convergem todas as pátrias movediças



cardumes nos destroços das bandeiras







Estes são os olhos que me olham



nos espelhos da água





Os meus permanecem hasteados nos mastros



a despir horizontes desgrenhados





no grito das marés



quarta-feira, 9 de maio de 2007

RAIMUNDO NARCISO - UM OPORTUNISTA NA TV

Uma pessoa pode nascer calhau e evoluir até ser pedra e mais evoluir até ser esculpida e ser arte - isto é ,todos temos um berço um caminho um projecto de vida e legitimamente evoluimos mudamos de sonhos de convicções de caminhos - mesmo que o chamado destino seja deixarmos de ser arte pedra e regredirmos ao primitivo calhau.
Na verdade relativa mas assumida por cada um em nome da transparencia sem venda da personalidade nem das memórias onde crescemos não podemos deixar de ser pessoas credíveis perante nós
próprios e os outros.
Raimundo Narciso um quadro qualificado do PCP deu hoje uma entrevista à sic not onde apresentou um seu livro,após se filiar no PS -
onde vomita no prato onde comeu.
Todos os partidos políticos têm destas criaturas - excrecências democráticas que para defenderem as chamadas novas ideias são
obrigados a dizerem mal dos próprios pais.
Raimundo Narciso - um oportunista que vai longe nesta república.


Pobre país com gente desta

NOVIDADES DO PAÍS - HOJE



A CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA
CAI À MEIA NOITE

HELENA ROSETA SAI DO PS

COMEÇA A CAMPANHA DO PIRILAMPO
MÁGICO

PORTUGUESES VÃO SER PENHORADOS
MAIS RAPIDAMENTE

BASILICA DE FÁTIMA - CONCLUÍDA - 60
MILHÕES DE EUROS PAGOS A PRONTO


( AINDA DIZEM QUE SOMOS UM POVO DO FADO TRISTE E DE POETAS RECICLADOS)



terça-feira, 8 de maio de 2007

SEREIAS NO SEU REFÚGIO








Feríamos a água

de tanto remar

e nem sabíamos bem porquê





estávamos no tempo dos jacintos

e queríamos inexplicavelmente

ouvir a sabedoria das marés

a respiração dos sapais

semear gestos nos sulcos da água





Clandestinos lá fomos devagar

à descoberta do princípio do mundo

prateados como os olhos dos peixes

e dos arados





Humedecidas pela brisa

lá estavam as sereias no seu refúgio

em lençois de linho e púrpura

sitiadas à nossa espera

a cantar os novos impérios





e nem sabíamos bem porquê




domingo, 6 de maio de 2007

NA ÁGUA ATÉ O RESPIRAR









Na água se guardam os mais perfeitos silêncios

inscrevem rumores

que a luz vai transformando em pão





Na água se devoram cardumes por ternura

movem folhas secas como espadas





Na água já vi correr na nudez das margens

(foi quando os homens se deixaram

envolver em ciladas para salvar memórias)





Na água se colhe a chuva e o deserto

ganha corpo o sonho para intervir na paisagem







Na água tudo é humano

até o respirar








sábado, 5 de maio de 2007

CARMONA - QUE LEVAS DO RIO?




A coisa já vem de longe - mas está a entrar na moda.Entrar,sair,

mudar ou não ser de nada - isto é - independentes dos partidos políticos

mas disponíveis para os representar.

A crise nacional não é apenas económica é sobretudo cultural.

O país descontente,assiste também nas margens dos rios,ao triste espectáculo dos fogos de artifício - e bate palmas.

O país distraído corre o risco de mais um partido político -

precisamente - o partido dos independentes dos partidos,isto é,mais

uma caldeirada de insensibilidades desorganizadas a esgrimirem como ténias no próprio organismo.

Carmona já tem funcionários de apoio à nova estrutura.Marques Mendes pulula no chão das marés,numa boia da nívea,com os bracinhos de fora.Santana - pasme-se - está a pensar.João Soares

apita ao comboio.As oposições palpitam e o povo - indiferente,faz

piqueniques na margem direita do Tejo.Leva as lágrimas para longe.

Carmona - que levas do rio?

sexta-feira, 4 de maio de 2007

CARMONA COMANDANTE


Ontem ouvimos o professor Carmona Rodrigues
dizer que seria o último a abandonar o barco

É de marinheiro - pensei eu


(esqueceu o professor que o barco é um submarino)


Admito hoje que o professor - no fundo,lá mesmo no fundo,bem fundo - é capaz de ter razão

quinta-feira, 3 de maio de 2007

A RASGAR CAMINHOS







Deixámos crescer o mar para lhe beber os rebentos

a fímbria que dança em redor dos olhos





entrámos as portas do efémero

habitantes desajeitados e natureza

tão infinitos que nos demorámos um no outro espantados

a conspirar contra o poder das aves





Deixámos crescer o mar para lhe colher a primitiva chama

a voz cúmplice da inocência a escada do celeiro





entrámos inumeráveis no olhar lúcido

das grandes sementeiras





tão navegáveis que nos removemos em musicas de maio

a rasgar caminhos

bosques e multidões

COMO TE VEJO












AINDA NÃO APRENDERAM

OS MEUS OLHOS


A VEREM-TE


COMO ÉS





MAS APENAS COMO TE VEJO

terça-feira, 1 de maio de 2007

MAIO






Hoje um poeta morreu

no trabalho

a construir poemas





João Corinto servente

não sabia palavras

só tijolos e cimento





Um pé fora do andaime





o chão não era de cravos

e as aves

bateram asas







Hoje um poeta morreu

no trabalho







Projectou-se do oitavo verso

do seu poema