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Passo a passo
no desassossego das marés
inconformado
desde o primeiro grito
atravesso por um fio
a distancia que nos aproxima
trespasso
volvidos tantos mares
na presença límpida
de uma flor
este chão de náufragos
passo a passo
pétala a pétala
em pleno voo
a dardejar por sobre as pedras
Quando chegaste
sangravas de uma asa
menina dos meus olhos
pátria efémera
a rasgar palavras
despida de tudo
regressaste ao concerto
dos meus silêncios preferidos
vestiste a cal de branco
num véu de noiva
e escreveste uma frase
trinada nas paredes da casa
que ainda hoje conservo
no coração das pedras
há pássaros em riste
Publicado no meu "Chão de Claridades"
Não sei quem és
mas pelos gestos vieste por bem
rasgar o vento com as mãos
a neve dos meus cabelos
e eu cansado de florestas apócrifas
das palavras em bando
comecei a plantar árvores
vi os pássaros regressarem
em acordes
a luz das noites que não dormem
na partilha de horizontes
o amor é revolucionário
voa nos mastros mais altos
garatuja búzios de sons
intervém por causas
muito para lá das utopias
e se levanta resiste
ao pôr do sol
mesmo que os barcos entristecidos
estilhacem
nos espelhos da água
algumas pedras com vida por dentro
registo por um instante
o ar que se move
pinto com a boca
na tua boca
uma flor vermelha
nas paredes do cais
Subi todos os degraus
do teu olhar
só para te ver
na escarpa
enquanto subia
o teu olhar derramava-se
no meu chão
quando cheguei
ao mastro mais alto
onde só o vento
e algumas aves se atrevem
descobri um secreto rumor
a maresias
na verdade o teu olhar
rasgado por sobre o rio
era a minha janela
desmoronados os acessos
por lá ficámos a respirar
o silvo dos barcos
e as sombras
Passo a passo com os cães
já fui à fala
até ao muro
decifrar garatujas
Ali fiquei
sentado numa pedra
na liturgia da luz
a confluir relâmpagos
Transumante
atravessei por um fio
rotas tresmalhadas
mas hoje
não sei porquê
apeteceu-me morrer
por um instante
nos teus braços
publicado no "Chão de Claridades"
No tempo em que crescíamos
a noite bramava tão parda
que nem parecia noite
de súbito um frémito de luz
pestanejou nos mastros do cais
o mar restolhou
e eu vi claramente
os teus olhos remoçados
alumiarem as águas
Após tantos relâmpagos vividos
julgavas estar preparada
para voar
mas os pássaros ainda aprendiam
a ter asas