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Ouvidos colados
neste chão de timbres
oiço o oculto coração das pedras
numa festa de raízes
respiro fundo a intimidade
da terra arada
as sementes
em novas apoteoses
de coisas simples
a sombra que se ateia
para as mãos
não perderem o sentido
nem os meus olhos
o hábito de olhar o chão
Eufrázio Filipe
Cais da Mundet Seixal
Pelo sulco das águas
regressei
ao intacto brilho do cais
beijei o chão da escarpa
como se estivesse a celebrar
o princípio das memórias
Lá estavam os barcos
no baloiço varino das marés
os cães na proa
mastros a dardejar
onde resistem
pássaros efémeros
Lá estavam
os meus pés nos teus
Eufrázio Filipe
Sequestrado no paraíso
de quando em vez liberto-me
Vou ali e já volto.
Eufrázio Filipe
Partiram como se as mãos
apenas servissem para dar
de beber às fontes
partiram para a água seguir
os seus passos
sábios e mudos
asas presas nas sombras
barcos descontentes prometidos
música funda tão limpa de areias
partiram de perfil
quase submersas
de poentes e salivas
Subiram todos os degraus do cais
despiram-se na biblioteca
para ler
a profanação das metáforas
e o mar crescer
nos mastros mais altos
Eufrázio Filipe