Nesta ilha de náufragos e jangadas imperfeitas
as romãs abriam os lábios explodiam multidões.
Os cães adivinhavam o brilho dos relâmpagos e tu caías abrupta nos meus braços.
Quando te vi assim a cair dos céus, desamparada a lubrificar a terra, não sabia o teu nome,
muito menos como te beijar os pés.
Quando te vi assim pendente, incolor, nua de tudo, chamei-te um nome qualquer
e tu chegaste a cântaros, tão líquida por entre os meus dedos.
Recebi-te quase ninfa de braços abertos na minha escarpa e assim ficámos vagarosos instantes,
a respirar eternidades.
Ainda hoje não sei quem és senhora.
Trazias nos cabelos um mar a derramar estrelas, cânticos sibilinos, barcos do outro lado do cais.
Fiquei sem saber se existias de facto ou teria sido eu a inventar-te
Escancarei as janelas, acendi um fósforo no alpendre da casa, e tu lá estavas a cair dos céus,
sem muros nem amos a cantar.
Tinhas uma vontade serena de liberdade, uma biblioteca onde se destacavam textos apócrifos,
mas também vivificavam ´Jorge Amado e Soeiro Pereira Gomes.
Se tivesse que te desenhar faria um gesto, um risco a carvão no ar que respiramos.
Bebia-te às mãos cheias, mas deixaria na nossa árvore preferida - uma romã.
Eufrázio Filipe
Texto reconstru'ido