Pessoa amiga ofereceu-me uma folha de papel manuscrita a sublinhar versos avulso de poemas que tenho publicado. Vou partilhar o gesto amigo desta brevíssima viagem nos apeadeiros. Por instantes folha ante folha para não acordar os pássaros.
" gosto de brincar com as palavras para dizer o que os brinquedos dizem às crianças "
" ainda não aprenderam os meus olhos a verem-te como és mas apenas como te vejo "
" hoje acordei a fazer poemas ou quase nada"
"a vida desnasce do ventre até à foz "
"risco este muro de cal e aguardo a chuva para ver como se desmoronam as palavras "
" guardas ternamente as minhas impressões digitais e eu de ti o sorriso gaiato a luz torneada "
" pego-te ao colo poema lanço-te da mais alta oliveira mas só as crianças fazem do teu corpo aviões de papel "
" admito que é impossível este tempo de folhas adormecidas - num instante a folhagem ficará repleta de pássaros azuis "
" hoje não quero salvar o mundo, só ajudar "
" sopro-te e voo "
" o mar entrou-nos pelo corpo num abraço de limos areias com salivas para filtrar a memória "
" nos teus olhos há um barco pintado com a mesma cor da água"
" ofereço-te o meu cão de barro se puder respirar mais cedo o perfume das tuas maçãs"
"estávamos na época da poda das roseiras e tu chegaste vestida de rosas"
"falaremos com as árvores e seremos mesmo assim menos livres que os pássaros"
" entre a terra e o mar a inocência sem limites"
" o povo berbere sabia muito da arte da guerra mas pouco da ciência política - ainda hoje vive no deserto - livre do paraíso"
" Paris é uma mulher escultural nua com uma boina azul a passear na ponte dos poetas com o Sena a espreitar-lhe as pernas e as rimas"
" hoje acordei às 4h da manhã como de costume e fui comer uma maçã- lá estavas a sorrir à minha espera "