segunda-feira, 28 de agosto de 2017
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
MEMÓRIAS À VISTA
Maravilhados
lançamos afectos
para dar sentido aos olhos dos peixes
sem querer
já tínhamos salvo o mundo
várias vezes
e assim vamos
meu amor
nas memórias à vista
mar que se alonga
a apascentar sonhos
paisagens de finisterra
neste povoado
onde só os pássaros
em bando
se julgam livres
por um instante
Eufrázio Filipe
domingo, 13 de agosto de 2017
MARES DESGRENHADOS
Decepei troncos
de árvores frondosas
para ver a serra
sem empecilhos
vi uma pedra
com vida por dentro
e um poeta improvável
a libertar-lhe o ventre
desenhei um barco
nos teus olhos
e tudo aconteceu ininteligível
contra todos os destinos
Inesperadamente inventei um deus
ao som de Leonard Cohen
acordei uma vez mais
a fazer versos ou quase nada
e tu lá estavas com voz grave
nua de tudo
despida nos meus espelhos preferidos
Foi assim
nesta viagem de latidos ventos e uivos
que te revi apócrifa
no meu espaço
folha ante-folha
senhora das meias pretas
A deshoras no velho cais
dos barcos sonolentos
subi aos mastros mais altos
segredei-te uma breve mensagem
regressei
ao que julgava ser
o meu último desejo
Foi assim
hoje não atearam fogo
às margens do nosso rio
o mar já nos tinha invadido
com bandeiras de cores lúcidas
e no rescaldo de um fósforo
ainda ardiam palavras
por sobre as águas
Sabíamos senhora
que a poesia pode ser
a arte de inventar um pássaro
desenhar numa folha de papel
a dor que sentimos
ousar a salvação do mundo
e voar
decepar troncos de árvores frondosas
para ver a serra
sem empecilhos
os contornos do teu corpo
Na verdade
há silêncios incontidos que se repetem
vozes que se ateiam
na boca das sementes
e foi assim
cheguei
aonde nunca parti
às pátrias repartidas
aos belos mares desgrenhados
Eufrázio Filipe
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