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Enlouquecidos
os cães uivavam
quando te debruçavas em arco
só para ver os barcos soltos
na volta da pedra
Silvestre
à hora do vento
no ramo mais alto
da minha árvore preferida
incantatória
vinhas à janela
só para ver
e eu lá estava
no espelho da água
a colher-te
Ainda hoje de tão perto
não sei quem és
mas sei que existes
e te desfolhas
Para celebrar o hino
apócrifo do vento
nos barcos desgrenhados
respirámos fundo
a essência dos sargaços
e o mar inteiro
sem idade
mal coube nas nossas mãos
Estávamos tão íntegros
a hastear velas
no branco inconsistente das salivas
a riscar sulcos na água
garatujas nas paredes do cais
que não contive
nos teus olhos
uma pétala desprendida
Muito antes da casa
aqui passava um rio de pomares
nas margens
cohabitavam romãs
penduradas por um fio
ainda hoje
projectam na água
o corpo que lhes dá forma
simplificando
aqui nas paredes da casa
onde passa um rio
não há romãs
mas de tão desejadas
existem
repartem-se como pão
bago a bago
nas nossas bocas
e assim aprendemos
que os nossos milagres
são fáceis de explicar
Quando o povo quiser
se o povo quiser
não ficará uma pedra no chão
Cá estaremos de pé
com fortes convicções
militantes da vida
pelos " filhos dos Homens que nunca foram meninos"
Os teus olhos pássaros
espantados
dedilham um rio
à flor da pele
No mais íntimo da pele
desgrenhei o vento
para te desassossegar os cabelos
escrevi na água
da chuva
para ver
como as palavras
se desmoronam
No mais íntimo da pele
lá estavas azul
tão azul tão azul
que te chamei mar
e já é tanto