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As árvores viajam
na sombra dos verdes
um sussurro de folhas
e tu foges dos ramos
amanheces tão distante
que nem os meus olhos
descobrem os teus gestos
as árvores viajam
onde acontece a cor do fruto
no chão
e os pássaros sem amos
deixam que a sombra se rebente
meu povo
que fizeste das nossas flores?
eufrázio filipe
Folha ante folha
eras um rio de mágoas
inclinada para o mar
um presságio de pátrias tresmalhadas
vertiginosa e bela
a içar neblinas
nos mastros mais altos
só não sabia
que ainda estavas em desassossego
por outros inocentes horizontes
exausta da cidade
e dos pássaros às migalhas
no chão das esplanadas
Para espanto dos cães
começaram a levantar-se
as memórias da araucária
e eu lambi-te as lágrimas
os cabelos brancos
os vendavais
Folha ante folha
foi assim que te vi
no espelho das águas
desalinhada
com poemas no regaço
eufrázio filipe
magritte
Celebro no mais íntimo da pele
a exuberância aprumada
da árvore ao fundo
quando acorda a cantar
e adormece com os pássaros
no outro lado do cais
quando desperta no deserto
esculpe grãos de areia com rosto
e se levanta nas dunas
contra o vento
celebro os contornos da luz
as esquinas e os becos
no rasgo lúcido de um traço
quando se desnudam na tela
espaços em branco
mãos vertebradas por todo o corpo
frutos silvestres
folhas persistentes
a vasta sede
eufrázio filipe
Nas arestas da escarpa
aprendemos quase inocentes
a arredondar pedras
para não ferir o voo dos pássaros
caminhamos num abraço de limos
ao som das marés
e descobrimos debaixo da pele
que nos abriga
tanta luz
por desbravar
resistimos nas areias movediças
desvendamos rotas conhecidas
atiçamos relâmpagos
círios
mastros
que se levantam
eufrázio filipe