sexta-feira, 27 de julho de 2012

ESMAIA A MARÉ E SE ALEVANTA





 
Nesta acidental praia
quase de tudo deserta
ululante
como se fosse possível
um coração de ave
tricotar areias com os dedos
no teclado das águas

Desnavegado
fui lá dizer-lhe
com voz de escarpa

hoje não quero salvar o mundo
só ajudar

A maré estava cheia
de azuis
por amor à lonjura tangível
a ressoar acordes
numa apoteose de sussurros
coada de palavras
aqui tão perto
que nem lhe posso tocar

Nesta acidental praia
esmaia a maré
e se alevanta


domingo, 22 de julho de 2012

GESTO DE ASAS






 
Nos aquários todos os peixes
são pardos

No arco intemporal
do imaginário
os melhores beijos
são os que se beijam
clandestinos
de olhos fechados

Talvez por isso
meticulosamente
desenhei um pássaro
incompleto

e assim nos perdemos
num gesto de asas


 

domingo, 15 de julho de 2012

TANTO É O MAR





Tanto é o mar
em redor das ilhas
que já nem sei quem mais amo
se a chama das águas
se os barcos
naufragos à vista
oráculos ao ritmo das marés
apeadeiros de aves
a cumprirem trajectos
no desassossego dos ventos

Tanto é o mar
no vazio povoado
de explosões de vida
sequestrado no paraíso
dulcícissimo
só precisa um pormenor de azul
para subir aos mastros

Quando chegar ao cais
com asas trôpegas da viagem
descobrirá âncoras
que sempre existiram
em desafio
nesta desordem
de cores nos jardins



segunda-feira, 2 de julho de 2012

VOU ALI E JÁ VENHO






Entenderam por bem nidificar
as andorinhas
no ninho que desejei
construído no alpendre
por cima da mesa
onde escrevo para os pássaros

De tão grato
não me permito perturbar
nem com o silêncio das palavras

Vou ali
e já venho