sexta-feira, 20 de abril de 2018
domingo, 15 de abril de 2018
A DUNA SOU EU
Enquanto aquele anjo permanecer nas areias, bem pode o vento soprar.
- O cão ou o velho?
Lentos, trôpegos, com os pés a tracejarem os caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias.
O cão, mais velho que o dono, era o guia, a sua bengala de cego.
Pela orla da praia, desde a gruta onde viviam até à colossal duna abrupta sobre as águas. As aves marinhas mergulhavam a pique, esbracejavam só para os salpicar. Lá iam serenos livres sem palavras - imensos.
No ar o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de marés.
Chegados ao topo da montanha era sempre assim - o velho afagava as orelhas do cão e o cão lambia-lhe as mãos.
Sentados respiravam infinitos - o perfume das algas. Adormeciam de olhos abertos.
Um dia, ao longe, alguém de um barco bramou
- Fuja a duna vai desmoronar-se. A duna vai cair.
Imperturbável, com as areias por entre os dedos, respondeu baixinho para não acordar o cão
- A duna sou eu.
Eufrázio Filipe
"Caçador de relâmpagos"
domingo, 8 de abril de 2018
NO PRINCIPIO DOS PÁSSAROS
Nunca foi importante
salvar o mundo
construir poemas
com palavras ininteligíveis
saber se és vento
barco relâmpago
mulher incerta
metáfora
escarpa
ou flor de estação
importante é quando passas
corpo de seara
sem magoar os cravos
e dulcíssima te desfolhas
Sempre me apaixonei
por esta desordem de cores nos jardins
quando passas
não pelos teus passos
mas pela sua leveza
como no princípio dos pássaros
"CHÃO DE MARÉS"
Eufrázio Filipe
terça-feira, 3 de abril de 2018
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