terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

FLORIAM AS CAMÉLIAS







Contra todos  aos destinos
reinventas asas
no fulgor dos pássaros

poisas corpo alado
mais leve que o vôo
no chão das marés

Neste dia côncavo e luminoso
recolhemos todos os beijos disponíveis
na fenda solúvel das palavras

floriam as camélias


eufrázio filipe

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

ANTES QUE O INVERNO ACABE






Não fixes os olhos
onde desnascem pedras
e em bando se precipitam os pássaros

vem afagar os cães
o coração dos meus barcos

deixa que abrupta a chuva
em desalinho rasgue neblinas
quebre silêncios

recolhe os sons da água
e os latidos
até que se encham os cântaros
rebente de vez a indiferença
dos ranchos
vergados a decepar videiras

deixa que tudo se mova
vem amar esta terra
às mãos cheias
mesmo que a voz se deite em surdina
para mais tarde acordar
a partir do chão

deixa que abruta a chuva caia
de preferência com relâmpagos
para te incendiar
o rancho se levantar
e as videiras ganharem mais força

vem
faça sol ou chuva
antes que o Inverno acabe


eufrázio filipe
(CHÃO DE MARÉS)






terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

A SOMBRA SE FEZ LUZ







Por sobre escarpas desertos e mares
lá onde nidificam sonhos
não perderam o sentido do vôo

recriadas
em vertiginosos bailados
nuas de tudo
regressaram ao alpendre
o meu palco preferido
dulcíssimas de tão breves

e a sombra se fez luz


eufrázio filipe

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A NUDEZ DAS PEDRAS






Neste mar longo e macio
não se apaga no cais
a nudez das pedras
a memória inteira
da velha araucária

em síntese

a noite num excesso de carícias
freme na sabedoria dos espelhos

só faltamos nós
de tão breves
os sedimentos



eufrázio filipe