quinta-feira, 27 de abril de 2017

O FULGOR DO PORVIR





Nem o mar sabia
entardecer
numa folha de papel

esculpir em síntese
a tua nudez

nem o mar sabia responder
a tanto azul
nem eu sabia que tardavas
mas chegavas
chegavas chegavas
nunca mais acabavas de chegar
a tempo de plantar
uma árvore
que se desnudasse
folha a folha

nem tu sabias senhora
neste deserto
a sede do entardecer

o fulgor do porvir

Eufrázio Filipe
(a publicar na próxima colectânea)


sexta-feira, 21 de abril de 2017

INACABADA FLOR DE ABRIL






Hoje vi com os meus olhos
uma santa mulher
asfixiar um pássaro
nas mãos
só para desenhar no chão
a dor que sentimos

chamei-a
para deixar nas areias
um beijo côncavo
até a memória arder
os últimos barcos
e as algas discernirem
de olhos abertos
todos os ritmos das marés

chamei-a
para esgrimir contra
a invenção dos destinos
erguer o seu corpo
recolher todos os grânulos disponíveis 

Hoje vi uma mulher amada
esculpida na praia
a despontar nas areias

inacabada flor de Abril

Eufrázio Filipe
(poema a incluir na próxima colectânea)



quarta-feira, 12 de abril de 2017

ACORDES DO MAIO






No limiar dos silêncios
onde o rio corre manso
desvendámos o futuro
a meio da ponte
a jangada que nos move
por sobre as águas

ali mesmo
mãos nas mãos
em pleno voo
crescemos juntos

os cravos vermelhos
começaram a despontar
acordes do Maio
os meus lábios nos teus

eufrázio filipe

quinta-feira, 6 de abril de 2017

NOS LÁBIOS DO VENTO






Quando abrimos as janelas
o mar estava de feição
corria-nos as veias
a falar por gestos
convergia
em quase todas as falas
e as flores despontavam
às mãos cheias
nos lábios do vento

Eufrázio Filipe