quinta-feira, 28 de junho de 2018
segunda-feira, 18 de junho de 2018
sábado, 9 de junho de 2018
À LUZ DE UM FÓSFORO
Nesta noite de alaúdes e jacarandás
a contar pelos dedos
os sons da vida
colhemos a vasta sede
caminhámos por sobre as águas
cúmplices nos olhares
e nas partituras
plantámos uma árvore
na velha escarpa
festejámos o barco
das nossas raízes
Nesta noite de mares silvestres
regressámos
à síntese da nudez
fizémos um gesto
e tudo ficou mais claro
à luz de um fósforo
Eufrázio Filipe
segunda-feira, 4 de junho de 2018
CHOREI COM OS CÃES
Conduzia na estrada do Barranco do Bebedouro - serpenteada,estreita,iluminada pela lua cheia.
De repente um vulto na minha rota. Não pude evitar. Só o vi pelo retrovisor.
Ao contrário do que se diz, as fotografias não substituem as palavras, mas esta sangrou-me.
Saí do carro e ajoelhei-me junto do animal- um rafeiro alentejano, lindo, que ainda me olhou nos olhos e disse baixinho
- É pá - mataste um cão livre.
A lua cheia derramava-se, inundava o silêncio de cores pálidas e eu levei-o ao colo.
Quando chegámos a casa só pude fazer o que fiz.
Chamei o Dique e pedi-lhe para convocar todos os cães da aldeia. O funeral foi marcado para a meia noite.
Todos compareceram.
Solidários quatro amigos mais corajosos ofereceram-se para escavar a terra, num canto da horta, onde espontâneas medram as hortelãs.
Todos reunidos no mais profundo silêncio, quando um uivo comovido despoletou um choro colectivo.
Só o Dique não chorou. Trazia na boca uma papoila que largou na sepultura.
Eufrázio Filipe
"Caçador de relâmpagos"
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