segunda-feira, 29 de outubro de 2007

MEU CÉU MEU CHÃO

salvador dali










ONDE SE GERA A METAMORFOSE



ARDE NO FOLGOR DO VOO



O PERFIL DA LUZ





ONDE SE GERA A METAMORFOSE



ALUMIAM AS PEDRAS



QUE DEVAGAR SE AMONTOAM



PARA ATIRAR AOS PÁSSAROS



INTANGÍVEIS





ONDE SE GERA A METAMORFOSE



ESTÃO OS OLHOS QUE TRAGO



AO VENTO



SEM DEIXAR RASTO



SEQUER UMA CINZA





ESTE MEU CÉU



É O MEU CHÃO





































sexta-feira, 26 de outubro de 2007

AVIÕES DE PAPEL










Neste país de pastores e rebanhos inventados



ousas para lá do olhar



com os teus olhos



projetar sombra na luz





Ousas ladrar



no equilibrio assimétrico



das estrelas





Talvez por isso cão



quando ergo o poema



e o lanço do mastro mais alto da vida



só as crianças



fazem do teu corpo



aviões de papel








domingo, 21 de outubro de 2007

OLHOS ABERTOS


imagens do mundo









O meu amor dardeja




no rosto das multidões




para que não se confundam




os olhos abertos






O meu amor a dardejar




quebra-se nas falésias




quebra as falésias




mas não se verga






O meu amor a brandir




em voos solidários




resiste




arde até ás cinzas




renasce das cinzas






O meu amor rasga sulcos brancos




no miolo da voz




por onde escorre a saliva




rasga-se em palavras de ordem




surpreende todas as cores






Tiro dos meus lábios




um beijo




para os teus




quarta-feira, 17 de outubro de 2007

LUZ










Coado o silencio



neste marulhar de azuis



e outros destinos



liquefaz-se em rumores



a perfeição irregular das falésias





rebentam neste chão de timbres



novas sementes



que submersas se transformam



em novas apoteoses



de coisas simples





É neste leito onde me dispo



que oiço claramente



indícios de palavras incendiadas




que o tempo não apaga





É neste ciclo de marés



que rasgo o oculto coração



das pedras



só para te ver



luz


domingo, 14 de outubro de 2007

VAGAROSOS INSTANTES










Todos os anos te espero



e tu vens



em voos rasos e doces



refrescar-te à mesma hora



quando rego as mais frágeis tangerineiras





No outono vou ter contigo



para saber onde me esperas



e tu lá estás



em voos rasos e doces





nos meus vagarosos instantes








sábado, 13 de outubro de 2007

ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA










ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA

uma referência nacional de Homem impoluto

interventor na sociedade - pela liberdade,pela paz e pelo pão.

Um poeta da vida

uma voz imperdível.



Nós não deixamos morrer os nossos mortos



porque o amor é revolucionário


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Á BEIRA DO DESEJO

lamento mas esta foto não foi por mim tirada








Nas fissuras menos conhecidas das pedras



navegam sargaços de cristal



move-se um coração de ave



água possuída de viagens



que o sol lambe em alvoradas





Na mais dura pedra um barco



com gestos a dardejar



desperta animal no próprio corpo



margens

voz

arestas



como se houvesse princípio para a fala





Na mais dura pedra a explosão



secreta dos corais



um pequeno sinal de vida



incontido



à beira do desejo e amanhãs



nesta pátria de naufragos



adentro





Nas fissuras menos conhecidas das pedras



uma asa suspensa



voa na luz



despe-se de tudo





participa



na desordem dos espelhos


domingo, 7 de outubro de 2007

PÓ E PERFUMES










Estão compostas as pedras na pauta



flui nos dedos



agita-se neste piano de espumas



a floração dos sons





É manhã de cantar



levar o corpo ao vento



Somos nós



as arestas imperfeitas



o timbre da água quebrada no olhar



antes que arda





No ar que se respira



inclinam-se inocentes



pó e perfumes






quinta-feira, 4 de outubro de 2007

AZUL EM VEZ DE CÉU

ondapcparadise








Na água sem repouso

freme a sabedoria dos espelhos



Pode ser lume esta água

pode ser dor este canto



rumor de luzes reverberando

sonhos de amanhãs



pode ser



espaço azul



em vez de céu




segunda-feira, 1 de outubro de 2007

CLARIDADES

foto de Gamini Kumara








Canta a asa que voa

e desmaia

na fenda solúvel

das palavras



Canta e colhe

o perfume lúcido da alvorada

o fogo mais íntimo da pele



Canta

e enquanto canta

oiço no meu búzio

de mãos nos ouvidos



um crepitar de areias e faúlhas



Canta

e enquanto canta

respiramos outras claridades