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Lá onde todos os azuis
se reúnem para cantar
e os olhos cegam
num espelho de águas
dulcíssimas
nem sempre acontecem
pautas de timbres
mas tu trazias no corpo
um rasto de asas
na voz um sinal
que despertam contidos silêncios
e foi assim
quando soltaste os pássaros
neste jardim de corais
em pleno voo
beijámos as pedras
eufrázio filippe
2015
Na exuberância dos sapais
nidificam garças
indiferentes ao ciclo das marés
tão breves
num verso
sedimentam o rio
Quando entardece
resgatam memórias
banham-se no chão das águas
quase humanas
espargem cores
fáceis de explicar
eufrázio filipe
Por falta de um sopro
no marasmo do cais
adormeciam barcos
banhavam-se em salivas
à vista dos mastros
quando amanheciam
sílaba a sílaba
junto ao pomar dos medronheiros
numa cadência de asas e passos
e tu adocicavas nas margens
imaculadas claridades
Com o tempo verifiquei
que eras tu
regressada ao que sempre foste
vertebrada metáfora
a folhear um compêndio de azuis
eras tu dulcíssima
tão líquida por entre os dedos
que adormecias os barcos
Eufrázio Filipe
Crescemos na nudez das pedras
crescemos e desmaiamos
conforme as marés
vertemo-nos líquidos
em caudais de sons
ardidos no sal
no delírio da espuma
por todo o corpo
crescemos na substância das pedras
com asas muito leves
não somos barcos de carregar velas
somos mareantes do vento
eufrázio filipe