quarta-feira, 26 de setembro de 2018

BEIJÁMOS AS PEDRAS







Lá onde todos os azuis
se reúnem para cantar
e os olhos cegam
num espelho de águas
dulcíssimas
nem sempre acontecem
pautas de timbres

mas tu trazias no corpo
um rasto de asas

na voz um sinal
que despertam contidos silêncios

e foi assim

quando soltaste os pássaros
neste jardim de corais

em pleno voo
beijámos as pedras


eufrázio filippe
2015

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

NO CHÃO DAS ÁGUAS






Na exuberância dos sapais
nidificam garças
indiferentes ao ciclo das marés

tão breves
num verso
sedimentam o rio

Quando entardece
resgatam memórias
banham-se no chão das águas

quase humanas 
espargem cores
fáceis de explicar



eufrázio filipe


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

DULCÍSSIMA





Por falta de um sopro
no marasmo do cais
adormeciam barcos

banhavam-se em salivas
à vista dos mastros
quando amanheciam 
sílaba a sílaba 
junto ao pomar dos medronheiros
numa cadência de asas e passos

e tu adocicavas nas margens
imaculadas claridades

Com o tempo verifiquei
que eras tu 
regressada ao que sempre foste
vertebrada metáfora
a folhear um compêndio de azuis

eras tu dulcíssima
tão líquida por entre os dedos
que adormecias os barcos


Eufrázio Filipe


terça-feira, 4 de setembro de 2018

MAREANTES DO VENTO







Crescemos na nudez das pedras

crescemos e desmaiamos
conforme as marés

vertemo-nos líquidos
em caudais de sons
ardidos no sal
no delírio da espuma
por todo o corpo

crescemos na substância das pedras
com asas muito leves

não somos barcos de carregar velas

somos mareantes do vento


eufrázio filipe