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Nesta aldeia
de mares imperecíveis
e sábios tristes
íntegro um pássaro do alto
entendeu por bem
atiçar o fulgor dos timbres
regressar ao cais
soltar os barcos
e partir
nas cordas vocais
de uma guitarra
Nesta aldeia
refúgio
à flor das águas
ainda há espaço para cantar
eufrázio filipe
A noite não dorme
porque se ama
e deseja
inesgotável
desponta vertebrada
move tempestades
às mãos cheias
dá de beber às fontes
a essência da luz
Tantas são as noites
que não dormem
contadas pelos dedos
a desbravar caminhos
conhecidos
eufrázio filipe
Quando te despiste em flor
e revelaste a nudez
já despontavam as camélias
não por dádiva dos céus
na vertigem das sombras
muito menos porque o mar
se ergueu
num sussurro de azuis
tão só depurada
trazias gestos musicais
a noção de um rio
que se demora nas margens
Quando te despiste
quase inocente
numa povoação de sílabas
não desnudaste
o mais íntimo da pele
ficaste em vigília ao improvável
tão perto dos mastros
onde dardejam pássaros
e profanam metáforas
eufrázio filipe
Benditas as palavras vertebradas
silaba a silaba
o canto das folhas desamparadas
no alpendre
o uivo dos cães
a clarear sombras
este perfume de mostos
chuva lábios e pedras
este marulhar desabrido
à nossa porta
na livre circulação do vento
eufrázio filipe