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Há um sulco invisível
nas águas
onde viajo
e me transformo
eufrázio filipe
Os cães choravam em silêncio
e eu não sabia porquê
pensei no pobre limoeiro a afundar-se
lá onde nidificam toupeiras
ao entardecer
na estrela persistente
que viceja à noite no portão
nos olhos claros de um certo azul
que ilumina a casa
no desfolhar ensombrecido
das roseiras
vasculhei tudo
invadi searas proibidas
até ao mais íntimo da pele
pó sombras sonhos
perguntei
quando desaguas?
e tu desaguaste à janela
a marejar entristecida
e eu não sabia porquê
Foi quando os cães se levantaram
para soltar os pássaros
eufrázio filipe
Impermanente
inscrito na pele
o tempo luz
timbre de outros mares
canta a voz das fontes
por vezes chora
Se as fontes cantam
com voz de pranto
porque choram os teus olhos?
Eufrázio Filipe
De tanto ver pátrias movediças
começo a ter saudade
das minhas verdades improváveis
pássaros pétalas e asas
a dardejar nos mastros
o tempo em arritmia
contado pelos dedos
em voz alta
esculpido nas pedras
povoado de sons
quase poema
Onde a luz se afoga
basta um sopro
na constelação dos azuis
para atear as águas
eufrázio filipe
( Chão de marés)
Quando implodem os Bolsonaros a invocar Deus em vão
o mundo começa a tresandar a pólvora
regridem as civilizações
mas nem todo o povo se ajoelha
eufrázio filipe