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Em cardume
nos olhos dos peixes
lá estavam os pescadores
Na véspera dos relâmpagos
e outros afectos
dulcíssimos corações
clareavam as noites
e nós só podíamos fazer
o que fizemos
sentámos à mesa
os ausentes
levitámos em voz alta
o sussurro das marés
recolhemos estrelas
no chão das águas
celebrámos a cadeira vazia
Eufrázio Filipe
"Chão de Marés" colectânea 2013/2o16
editora Lua de Marfim
Os cães choravam em silêncio
e eu não sabia porquê
pensei no pobre limoeiro a afundar-se
lá onde nidificam toupeiras
ao entardecer
na estrela persistente
que viceja à noite no portão
nos olhos claros de um certo azul
que ilumina a casa
no desfolhar ensombrecido
das roseiras
vasculhei tudo
invadi searas proibidas
até ao mais íntimo da pele
pó sombras sonhos bibliotecas
perguntei-te
quando desaguas?
e tu desaguaste à janela
a marejar entristecida
e eu não sabia porquê
foi quando os cães se levantaram
para soltar os pássaros
Eufrázio Filipe
"Chão de claridades" colectânea 2008/2012
Editora Lua de Marfim
Um círculo de garças
nem brancas nem esguias
adormecem nos barcos ancorados
com olhos excessivos
Nesta ilha sem vista para o mar
navegam águas improváveis
faúlhas num incêndio
de partículas sitiadas
Aqui paira o aroma da cânfora
em ressonâncias quase divinas
pousam lábios em cálices de cicuta
O mar não é sempre azul
e talvez por isso se agite
nos mapas imaginários
rasgue caminhos
para não se perderem os náufragos
Nesta ilha de bálsamos
onde os destinos se desmentem
afagamos ruínas soltamos hinos
por sobre a memória das pedras
damos voz aos silêncios
até que as garças
se tornem brancas
como flores de espuma
Eufrázio Filipe
"Que fizeste das nossas flores"
No espelho das águas
sacudi amarras
a preguiça das marés
Não chovia
em redor dos teus olhos
mas quando te recolhi
numa folha de papel
incomensurável e linda
uma brisa
sentou-se na cadeira vazia
e nós começámos
de novo
a lavrar areias
a desbravar outonos
folha ante folha
Estava tão aceso o mar
que nem pareciam azuis
os teus olhos
Eufrázio Filipe
"Chão de marés" (reconstruido)
Em todos os mares há barcos tresmalhados por ventos desfavoráveis, mas quando a direita política perde, é sempre bom motivo para festejar.
A CDU perdeu algumas câmaras municipais, o Bloco não ganhou nada, o CDS permanece insignificante, o PSD de joelhos perdeu o país.
A "geringonça" vai continuar (?)