segunda-feira, 28 de novembro de 2016

LÁGRIMA SOLTA






Quando a estátua
deixou de ser estátua

eu vi

uma lágrima solta
nos olhos
da pedra

Eufrázio Filipe

2013

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

SUSPEITE DO QUE PARECE ÓBVIO






A propósito ou não do próximo orçamento de/do Estado recordei um insigne professor que dizia nas suas aulas 

"nada literáriamente mais excitante que uma metáfora"

Na verdade sempre relativa da vida toda a poesia é ficção
pelo que sugiro 

suspeite do que parece óbvio

Eufrázio Filipe


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

ATEAR O CORAÇÃO DAS ÁGUAS






Lá estás à janela
na intimidade redentora
a ler verdades improváveis

lá estás pássaro azul
no longo caminho
que sustenta
a nudez da fala 

lá estás à pergunta
de uma brisa desgrenhada
um belo relâmpago

tu sabes

mesmo quando se rasgam palavras
num sopro de vento
é preciso atear o coração das águas


Eufrázio Filipe



quarta-feira, 16 de novembro de 2016

LÁBIOS




Demoras-te senhora nestas águas
porque é sempre breve
o instante
das pequenas vertigens

vieste colher os meus lábios
para incendiar uma pedra

na verdade o teu corpo
tão líquido e incerto
na voragem dos destinos inventados
vibra no ritmo das marés
ilumina-se por dentro
num feixe de faúlhas

habita as fendas rema
por onde espumam as salivas

demoras-te senhora
sentada no meu barco 

mas nunca saberás
dos meus lábios uma palavra
sempre que tocar os teus

nem das línguas
o fogo regurgitado
que nos liberta


Eufrázio Filipe
no "Chão de Claridades"


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

LUZ DE OUTONO





num fascínio de crisálidas
a luz canta
os seus olhos na folhagem

mas no Outono
doi-lhe tudo

derrama sombras no chão
até a metáfora do seu corpo


Eufrázio  Filipe


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

SEM MORTE NEM PRINCÍPIO





Foges dos ramos e amanheces
em flor e tão distante
que nem a viagem
dos meus olhos
descobre os teus passos

mas quando alada
com um pássaro na voz
o perfume do teu canto
flutua
fazes-te ao mar

sem morte nem princípio


Eufrázio Filipe