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Quando a estátua
deixou de ser estátua
eu vi
uma lágrima solta
nos olhos
da pedra
Eufrázio Filipe
2013
A propósito ou não do próximo orçamento de/do Estado recordei um insigne professor que dizia nas suas aulas
"nada literáriamente mais excitante que uma metáfora"
Na verdade sempre relativa da vida toda a poesia é ficção
pelo que sugiro
suspeite do que parece óbvio
Eufrázio Filipe
Lá estás à janela
na intimidade redentora
a ler verdades improváveis
lá estás pássaro azul
no longo caminho
que sustenta
a nudez da fala
lá estás à pergunta
de uma brisa desgrenhada
um belo relâmpago
tu sabes
mesmo quando se rasgam palavras
num sopro de vento
é preciso atear o coração das águas
Eufrázio Filipe
Demoras-te senhora nestas águas
porque é sempre breve
o instante
das pequenas vertigens
vieste colher os meus lábios
para incendiar uma pedra
na verdade o teu corpo
tão líquido e incerto
na voragem dos destinos inventados
vibra no ritmo das marés
ilumina-se por dentro
num feixe de faúlhas
habita as fendas rema
por onde espumam as salivas
demoras-te senhora
sentada no meu barco
mas nunca saberás
dos meus lábios uma palavra
sempre que tocar os teus
nem das línguas
o fogo regurgitado
que nos liberta
Eufrázio Filipe
no "Chão de Claridades"
num fascínio de crisálidas
a luz canta
os seus olhos na folhagem
mas no Outono
doi-lhe tudo
derrama sombras no chão
até a metáfora do seu corpo
Eufrázio Filipe
Foges dos ramos e amanheces
em flor e tão distante
que nem a viagem
dos meus olhos
descobre os teus passos
mas quando alada
com um pássaro na voz
o perfume do teu canto
flutua
fazes-te ao mar
sem morte nem princípio
Eufrázio Filipe