Publicado no meu " CAÇADOR DE RELÂMPAGOS"
Digo-te a bruma coada na cidade, para êxtase do porvir. Incito-te ao levantamento do chão, onde adormecem lábios e pedras em murmúrios e salivas - só para te ver transgredir as pautas.
Eu digo-te uma luz ao fundo, protegida por sombras e sons, numa campânula em arco.
Repara no cego.
Repara no cão.
Quando chega a casa - imagino um cubículo de madeira - o cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.
É o cego das esquinas. O tempo de rastos.
Quem anda a montar o tempo?
São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas.