domingo, 3 de maio de 2015

AMAR UMA PEDRA


                                                        republicado



Todas as fendas da água
dão guarida ao movimento e se desnudam
enquanto a pedra partilha os seus esconderijos

na respiração do azul
onde os peixes se eternizam
partem anémonas para os silos dos sonhos
mas só algumas pautas musicais
quebram o ritmo das marés
quando as mãos se tocam
para atear fogueiras dentro de nós

todas as fendas da água
levedadas
entoam hinos
e se transformam na síntese de outros cânticos

só assim se explica como é possível
amar uma pedra


 Eufrázio Filipe
 

23 comentários:

Às margens de mim. disse...

Deve ser a coisa mais difícil do mundo. Desligar os sentimentos e emoções não é nada saudável mas as vezes necessário!...
AbraçO

CÉU disse...

Olá, Filipe!

E que "pedra"! O reboliço da sua vontade perdeu-se na fenda, aqui fechada, na boca imaculada e serena desta "pedra".
Amar, escrever assim, não é "pedrada", é sensibilidade, talento e engenho.
A temática poética, aqui, tem sempre a ver com o mar e seus "afluentes" e "subafluentes", mas há quem não consiga passar sem ele.

Um dia destes, tenho de colocar no meu blogue, um "pedro", assim, mas sem mar, ou seja, bem interior, e não rochedo, mas algo moldável à minha inspiração.

Bom domingo!

Pata Negra disse...

Com 90 anos a minha mãe

não admite ser discriminada?!

um abraço discriminado

Rogério G.V. Pereira disse...

Afagar a rocha
lançar um seixo
amar a pedra

tal como nos versos do poeta

Majo disse...

~~
~~ Sem qualquer interpretação...

~~ Supremo! Sensual! Belíssimo!

Que as musas te acompanhem, Poeta!

~~~~~~~~ Beijo. ~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Majo disse...

~~
~~ Muitos parabéns pela sua querida mãe nonagenária.

~~ Que tenha sido um dia muito amoroso,terno e feliz.

~~~~~~ Abraço. ~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Palavras soltas disse...

Até as pedras são necessárias.
Lindo!

Beijinho.

Andrea Liette disse...

Tudo é amável na boca de um poeta. Um poema maravilhosamente lírico. Um beijo.

Lídia Borges disse...


Na síntese dos cânticos, o Canto, sempre entoado a azul-mar.

Bonito!

AC disse...

Que todos tivessem a capacidade de amar...

Abraço

vida entre margens disse...

Só aos poetas, é permitido amar as pedras...

Fabuloso como sempre Poeta!!

Abraço amigo

Agostinho disse...

As pedras hão de parir.
Foram fecundadas
com ideias do devir.

anamar disse...

Há pedras e pedras.

:)

teresa dias disse...

Li e arrepiei-me.
Belo poema.
Abraço.

Graça Pires disse...

"só algumas pautas musicais
quebram o ritmo das marés
quando as mãos se tocam
para atear fogueiras dentro de nós"
Tão belo, amigo.
Um beijo.

Magia da Inês disse...


É lindo!

Ótima semana!
Beijinhos.
╰✿づ

Manuel Veiga disse...

há pedras parideiras, como bem sabes...

grávidas de Vida.

abraço, Poeta

Fê blue bird disse...

Um dos seus poemas mais belos e originais. Parabéns!

beijinho

SOL da Esteva disse...

Poema soberbo, Amigo.
Amar, é sempre ter Amor, mesmo que seja dirigido a uma pedra.
Parabéns.


Abraços


SOL

jrd disse...

Quem como os poetas sabe amar as pedras no intervalo das águas?

Abraço meu irmão poeta

George Sand disse...

As pedras e a água e o caminho que se faz lavrado, entre elas.
Gostei muito!

Maria Eu disse...

Um poeta é capaz de amar qualquer coisa.
Lindo!

Beijo, MA. :)

Odete Ferreira disse...

Eu sei que se pode amar as pedras. O porquê não sei...
Em criança,tinha um especial encanto em procurar jogos entre as águas cristalinas do meu rio. Tenho comigo pedras que trouxe de muitos lugares...
Mas falar de amor a uma pedra num poema e desta forma sublime, só tu amigo!
"todas as fendas da água
levedadas
entoam hinos
e se transformam na síntese de outros cânticos" - e como são belos!
Bjo, Filipe :)