segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O PÓ DO TEMPO


             


Inesperadamente acordei

coloquei o teu travesseiro no meu travesseiro
liguei o rádio
fumei um cigarro
abri a porta do relógio de pêndulo
para dar corda ao tempo
e ver-te passar

soprei os ponteiros e voaste
tão longe
que só um dia te encontrei
na areia da praia
a olhar um barco
que nunca existiu
a não ser quando um pássaro distraído
em confluência de rotas
transportou o vento nas asas
e pousou em silêncio
no teu olhar

lembras-te?
lembro

na rebentação das marés
onde se enleiam sargaços
começámos a soletrar pelos dedos
palavras excessivas belas imensas

a erguer das cinzas
o pó do tempo


 

22 comentários:

Sónia M. disse...

Tão belo!

Abraço

isabel mendes ferreira disse...

um prazer voltar aqui.


abraço.



imf

trepadeira disse...

Acordo sempre com vontade de gritar,
não para levantar o pó,
para fazê-los voltar ao pó.

Abraço,

mário

Lídia Borges disse...


"palavras excessivas belas imensas"

Assim, erguendo "das cinzas o pó do tempo" em tempo carente de sonho

Beijo

Rúbida Rosa disse...

Quase impossível expressar com palavras o quanto eu gostei deste poema. Vou copiá-lo e guardá-lo.
Abraços!

Agostinho disse...

E não há maré para os dedos chamarem na pedra?

Rogério G.V. Pereira disse...



"Erguer das cinzas
o pó do tempo"

sem um só lamento

Manuel Veiga disse...

como não guardar a "confluência das rotas" quando se desenham assim em "palavras excessivas belas imensas?"...

abraço, Poeta maior.

Majo disse...

~
~ ~ A tocante emoção e a ternura esfuziante do reencontro de duas pessoas que muito se querem...

~ ~ ~ Embalados pelo ritmo do mar . . .

~ ~ ~ ~ Mutito belo e especial! ~ ~ ~ ~

Suzete Brainer disse...

Este teu poema é de uma beleza
sublime,atingiu o lugar da
infinitude das palavras...
Para quem adora a grande poesia,
a leitura deste teu poema
consagra este sentimento
da importância da
existência da poesia.
Fiquei suspensa pelas palavras
excessivas belas imensas!!

Graça Pires disse...

""palavras excessivas belas imensas", as tuas.
Beijo.

Armando Sena disse...

Sonho de um tempo sem tempo.
Belo

jrd disse...

No pó do tempo desenha-se o poema.

Abraço fraterno

Andrea Liette disse...

Também pouso em silêncio neste maravilhoso poema, que nos transporta
a todas as marés onde o amor possa aportar.

Agradecida pela sua visita !

Um beijo.

Palavras soltas disse...

"te encontrei
na areia da praia
a olhar um barco
que nunca existiu"

Belo!

Marta Vinhais disse...

As palavras nunca são excessivas, porque são imensas e escrevem-se na alma...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

cinzas em combustão (?)

:)

Cadinho RoCo disse...

Da lembrança ao agora tudo se intensifica.
Cadinho RoCo

MJ FALCÃO disse...

Um bonito poema...

ana disse...

Gostei muito.
Um bonito levantar do pó.
Abraço!:))

Teresa Almeida disse...

De inalcançável ternura! Só possível " quando um pássaro distraído
em confluência de rotas
transportou o vento nas asas
e pousou em silêncio
no teu olhar"

Lembro.
Obrigada.
Beijinho.

Vento disse...

emudecer de espanto:
... é um gesto?! pois...
é que não encontro a poesia das palavras para te dizer como me encanta essa tua maneira de ser 'excessiva' e linda.

beijo.