quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

GRÃOS DE AREIA






Ao fundo
neste Inverno dissonante
cães de lume incendeiam
sopros de vento
nos recortes da serra

rasgam-se em sombras
ladram silêncios
às flores silvestres

mas tu resistes

continuas a lavrar grãos de areia

e a chuva cai desgrenhada
nos teus cabelos
surpreende-me em pleno voo
a ouvir-te cantar

não digas nada que seja
apenas o que os olhos vêem

fala-me por gestos



Eufrázio Filipe
(Chão de claridades)



14 comentários:

luisa disse...

Resistir ao inverno, apontar a primavera que há de vir.

Cidália Ferreira disse...

Amei!!

Beijo e bom fim de semana

Marta Vinhais disse...

Mesmo no Inverno, algo floresce nos gestos, nos olhares...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

Laura Ferreira disse...

gosto.

Elvira Carvalho disse...

Gostei de ler.
Abraço e bom fim-de-semana

Boop disse...

Às vezes tenho aquelas saudades estranhas daquelas coisas que nunca tive.
Da serra... como se fosse "minha"

jrd disse...

Um vai e vem que deixa na fímbria da areia o espaço e o sal das palavras.
Grande abraço Poeta amigo.

mariam [Maria Martins] disse...

Muito, muito bom! Beijinhos

JANE GATTI disse...

Muitas vezes as palavras corrompem a pureza do gesto. Talvez por não conseguir abarcar e traduzir o sentimento do olhar e do gesto. Abraços. Bom domingo.

Graça Pires disse...

Cantar enquanto resiste... Há-de falar-te por gestos com certeza...
Belíssimo!
Uma boa semana.
Um beijo.

Amor disse...

Mar,já não vinha aqui há muito e vejo que perdi muito.
Os teus poemas são maravilhosos e este não foge à regra.
Enquanto escrevo aqui, ouço poemas teus. Não sei se é a tua voz mas estou a adorar.
Beijinhos,
Ana

Olinda Melo disse...


O gesto é tudo. Os olhos vêem aquilo que merece ser visto. Lavrando areia, rochas que vêm do fundo dos tempos, a consistência do canto manifestar-se-á.

Abraço

Olinda

LuísM Castanheira disse...

por vezes, as palavras são de mais.
(gestos nas labaredas em voos)
abraço, poeta.

Agostinho disse...

"Cães de lume...
ladram silêncios"!!!
Para lá do que "os olhos vêem",
vale-nos saber enxergar.

Sempre o timbre das imagens, suportadas numa linguagem poética personalizada, que se exprime em sons plenos e distintos, numa harmonia de mestre.
Abraço.