segunda-feira, 4 de maio de 2009

A DUNA SOU EU




Enquanto aquele anjo permanecer nas areias, bem pode o vento soprar


- O cão ou o velho?


Lentos, tropegos, com os pés a tracejarem os caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias.

O cão - mais velho que o dono - era o guia, a sua bengala de cego.


Pela orla da praia, desde a gruta onde viviam até à colossal duna, abrupta sobre as águas, as aves marinhas mergulhavam a pique e esbracejavam só para os salpicar. Lá íam - serenos - livres - sem palavras - imensos.


No ar o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.


Chegados ao topo da montanha era sempre assim - o velho afagava as orelhas do cão e o cão lambia-lhe as mãos.


Sentados - respiravam infinitos - o perfume das algas - adormeciam no tempo.


Ao longe, muito ao longe - alguém de um barco bramou

- Fuja - a duna vai desmoronar-se.


Imperturbável respondeu baixinho para não acordar o cão.


- A duna sou eu.



36 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Verdadeiramente belo :)

Fiquei a pensar sobre... também...

jrd disse...

...E permaneceu de pé,estático e firme como um rochedo, até que o cão acordou e juntos prosseguiram a jornada.

Belo como sempre.
Abraço

José Carlos Brandão disse...

Estou voltando de Fortaleza, onde vi dunas assim. Faltou o cão. Não faltou a vontade de gritar: A duna sou eu!

Abraços.

hfm disse...

Que beleza!

Teresa Durães disse...

gostei bastante!

mdsol disse...

Que bonito!
Gostei muito da ideia: a duna sou eu!
:))

Meg disse...

No ar o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.Belíssima a imagem poética.
É um prazer passar por aqui.

Um abraço

maria josé quintela disse...

lindíssimo!!!




sem mais comentários.



beijo.

Graça Pires disse...

Um poema surpreendente e belo!
Um abraço.

Anónimo disse...

... Belo!...e eu que estou a caminhar para ser DUNA!!!

AB. - EL

Graça disse...

Adorei! [gosto de belas palavras, enfim]


Beijo meu

AnaMar (pseudónimo) disse...

Sem palavras.

Marta disse...

e a leitora sou eu. e saio encantada!

Diogo disse...

Bom poema meu caro duna.

Manuel Veiga disse...

era sim. a duna! sem margem para dúvida.

aí estás tu testemunhar. em palavras certeiras.

belíssimo.

abraço

maré disse...

hercúleo

o resistente caminho

e as palavras a desbravar a montanha


_____

que dizer-te daqui desta praia?

sem cão
.
ao longe um bradar de silêncios

Gabriela Rocha Martins disse...

impressionante
a força anímica que as tuas palavras "transpiram"

sejamos um pouco mais cegos ,a fim de vislumbrarmos a luz......


.
um beijo

vieira calado disse...

Múltiplas sugestões neste belo texto.

Um abraço

Arábica disse...

Sentados-, respiravam infinitos e embalavam dunas...vejo-os eu.


:) um beijo

Ana Camarra disse...

Posso ser também?!

beijos

vida de vidro disse...

Como se já não se distinguissem da paisagem. Belísimo. **

maresia disse...

Olá
amei o teu blogue!
A sério!
bgda pela tua visitita
desgrenhado, só o meu cabelo mesmo!
O mar desgrenhado assusta-me um pouco!
Prefiro-o em calmaria!
Para não ter que me zangar com ele! Porque eu gosto-o...E quando se desgrenha...é um cadito mauzito, não achas!?
Besito em tu

mariam [Maria Martins] disse...

Eufrázio,

_____ BELÍSSIMO!_____

... percorrer as memórias...

um grande abraço e o meu sorriso :)
mariam

isabel mendes ferreira disse...

bom dia duna....debaixo do sol.







abraço.



.


(sem acordar a montanha....agradeço)

São disse...

É sempre bom ler a tua sensibilidade, Amigo.
Beijos.

Nocturna disse...

Belíssimas palavras !
Bela parábola. Somos todos tão frágeis como uma duna. Como uma areia que o vento carrega daqui para ali.
Para quê tanta e tão desmedida
ambição de alguns ?
Um vento vai varre-los para sempre do cimo da terra.
Assim o povo queira.
Um abraço e parabéns.
Nocturna

opolidor disse...

a sensibilidade à superfície como se arranhasse a pele da alma... a poesia pode compreender-se , mas só alguns a desenham...

abraço

Alberto Oliveira disse...

... pior cego é aquele que não quer ver.

Lamentável, o do barco, não distinguir uma duna dum velho ou um velho duma duna ou ambos num só. Felizmente que o autor deste belo conto, pôs as palavras certas na boca de quem é quem.

marialascas disse...

Gostei muito do seu blog!
De vez enquando irei passear à beira deste mar.

Laura Ferreira disse...

Gostei como sempre.
Gosto muito, em prosa.
Um beijinho.

Licínia Quitério disse...

Muito bonito, mesmo.

Somos dunas...

Guidinha Pinto disse...

Cão e velho, fazem parte dela. Quase duna fóssil. Muito belo este texto.

Márcia disse...

...porque somos algo que ninguém conhece...ou que não quer dar a conhecer!bjs

L e n a disse...

Um texto lindo, como so tu sabes escrever..
"E a duna sou eu.." gostei do fim.

Bjos

LUA DE LOBOS disse...

que belissimo texto.
vou voltar
xi
maria de são pedro

Anónimo disse...

Que lindo poema!

Entranha-se na alma.
Seria óptimo que
...Nem nem outro
- Eu!
Bengala que subtitui o cão
Ave que rodopia e
te salpica
Concerto que afaga
o silêncio das marés
...
Apetecia me subir à duna
contemplar aquele barco longe
E sentir aquele vento...

princesa