terça-feira, 24 de junho de 2008

DESERTOS CONHECIDOS



Lá em cima no mais alto

entardecer dos últimos ninhos

as pedras

num sopro de alvoradas

assumem o coração das aves

erupções de asas

e das suas entranhas correm

lavas vertilíssimas

pelos nossos lábios

uma certa navegação de símbolos

em carne viva

ao rubro pelas vertentes

e o ar que se respira a si mesmo

promete um silêncio profundo

em anfiteatro

onde só os pássaros sem amos

crescem em coro sibilino


Lá em cima no mais alto

entardecer dos últimos ninhos

o frenesim da paisagem

exalta-se em vertigens passageiras

precárias definições

como se os melhores caminhos

não estivessem vivos

nos desertos conhecidos

por debaixo das areias


quase à tona

gloriosos,nómadas,tatuados

silvestres


22 comentários:

Licínia Quitério disse...

Aromas fortes, telúricos.

Abraço.

Graça Pires disse...

"Lá em cima no mais alto
entardecer dos últimos ninhos" silencio a voz para não profanar a beleza do poema.
Um abraço.

Mel de Carvalho disse...

"Lá em cima no mais alto
entardecer dos últimos ninhos"...

existe sempre o mais alto que se busca num "frenesim da paisagem" e uma constante incredulidade no trilho "dos desertos conhecidos
por debaixo das areias"

**
Sempre um prazer viajar neste mar de mão cheia.

Li e reli... vou ler de novo!
Grata
Mel

bettips disse...

Sempre me pergunto - e respondo - donde vem essa canção da terra que à terra volta, em pés descalços.
Abç

Donagata disse...

Um prazer, como sempre. Deixa-me na boca o sabor dos movimentos cósmicos que determinam a vida, o fogo, a paixão e o entardecer.
Um beijo

Luís Galego disse...

e o ar que se respira a si mesmo


promete um silêncio profundo...

isabel mendes ferreira disse...

"Lá em cima no mais alto


entardecer dos últimos ninhos


o frenesim da paisagem


exalta-se em vertigens passageiras


precárias definições"



mas aqui nada é precário.


antes o discurso silvestre de quem sabe.
ver.




_________________beijo. grato.

Catarina Poeta disse...

Que lindo poema... pulsante, fez vibrar meu âmago ancestral, minhas raízes, minha cor.

jrd disse...

E estão vivos os caminhos,à espera de um golpe de asa, de um voo picado.

nana disse...

como se....


como se.







..








x

Anónimo disse...

Poderemos titular, estas palavras, como sendo "O Poder da Natureza"?
Abraço

Anónimo disse...

lá em cima, no mais alto livro, o poema que aqui escreveste. adorei também a ilustração :) um beijo*

maria josé quintela disse...

belíssimo poema silvestre!

Gabriela Rocha Martins disse...

há muito que não te lia
tão

BELO


.
um beijo ,ainda sem café

Manuel Veiga disse...

pássaros sem amos... em sopro de alvoradas!

como um grito de vermelho e negro (in)esperado...

belo, Poeta!

abraços

tulipa disse...

Me recordo da minha cidadezinha como um lugar de infância chapinhada, um lugar onde o próprio tempo transpirava.
O mar não nos tocava apenas como margem do nosso pequeno mundo.
O mar vinha de baixo, fluía entre os poros da terra, como um suor imenso.
E tanto éramos feitos de líquido que ainda hoje eu creio não ter terra-natal.
A Beira é minha água-natal.

Assim escreve o Mia Couto e eu assino por baixo, concordando.

Bom fim de semana.
Bons banhos de praia ou de rio.

Justine disse...

Ao rumor das palavras laceradas e ferozes junta-se a simbologia inquietante da fotografia, para nos monstrar, com a clareza inerente ao poeta, que os melhores caminhos podem estar substerrêneos.
Belíssimo

Maria Laura disse...

Em consonância com a terra. Muito belo.

bsh disse...

Belissimo...

Parabéns.

http://desabafos-solitarios.blogspot.com

Anónimo disse...

Aqui de cima
avisto todo o deserto
Desorientada
contemplo
um ou outro oásis
perdidos
na imensidão
Desorientada
rebusco
símbolos e convicções
...
o último ninho
que deixei
para além do deserto...

princesa

dona tela disse...

Estudei o acordo ortográfico.

Boa semana é o que lhe desejo.

batista disse...

não só a imagem é linda... teus versos?! belíssimos!! Valeu, mesmo!!!

um abraço fraterno.