terça-feira, 27 de novembro de 2007

NO CHÃO SENHORA

foto de ana limp








Chegámos a este ponto . , - a este rio,a este riso com duas margens,



a esta floresta de silencios impenetráveis para os olhos,a este palco de palavras,



sonos e sonhos.





O dia é aqui o que menos importa,por isso digo apenas - chove como



um rio nas bocas abertas,nos olhos molhados.





As pessoas no subúrbio,correm,passam,trespassam,desandam de si,



consigo e do tempo que faz.





Chegámos a este ponto ., - a este rio com duas margens e uma ponte.



Aponte.A ponte.





Debruçadas - as pessoas - todas a olhar,apenas a olhar,no espelho do rio,



este riso com duas margens - só para se verem projetadas no insólito,



só para verem - gravatas tristes no tronco cinzento dos eucaliptos.





- É urgente acordar.

- Acordámos?

- Que dia é hoje?

- Pára-me esse motor,já me basta o ritmo das estações,o resto das unhas

roídas,espalhadas na mesa - e o empregado à espera - à espera porquê? -

de uma nesga de sol que lhe afague a bandeja de migalhas.

- Mas esta lágrima é sua ou fui eu que a inventei?

- Cinco euros para te retirares.

- E a lágrima?

- Paguei para te calares.

-Estava no chão,senhora.

- Morre,eu paguei.





CAI O PANO



NÃO EXISTE PANO



O TEMPO PASSA







15 comentários:

Maria disse...

É urgente acordar.
Cada vez mais urgente...

Graça Pires disse...

Um rio com duas margens e uma ponte. Um rio de coragem. Uma ponte solidária. Um abraço.

Páginas Soltas disse...

Um belíssimo texto em que há duas margens, um rio e uma ponte!

Um díálogo imaginário entre o sentimento e a lágrima...

Os aplausos ouvem- se... antes da cortina se fechar!

Beijo

Maria P. disse...

E o tempo volta.
Gostei!

Beijinho*

Monte Cristo disse...

É isto a nossa vida.
Pontes imaginárias.
Rios impossíveis.
Vidas - e mortes - compradas.
Tudo a prazo.
Tudo a perecer.
Um imenso cheiro a esgoto.
E um labirinto de cipestres.

CCF disse...

Diferente este, respira-se a insatisfação, a amargura e o humor corrosivo que passa por vezes nas prosas, mas há também a luz que está presente na maior parte dos outros poemas...embora eu só há pouco tenha começado a ler este mar!
~CC~

Gi disse...

hoje perdi-me no meio ds tuas palavras tanto o gostei delas.

caíu o pano




um beijinho

un dress disse...

às vezes pergunto apenas

como chegámos a ser: assim...





beijO

jrd disse...

E as margens feitas lábios na boca de cena do rio das palavras.
Muito bom.
Abraço

hora tardia disse...

"desandam de si"....





_____________



gostei.



como n�o?



bom dia.

Gabriela Rocha Martins disse...

BELO

( belíssimo )

e

IRREPETÍVEL


.
.


um beijo

Licínia Quitério disse...

Nas margens da tragi-comédia andamos. Só o rio sabe...

Mateso disse...

Belo!
Uma ponte para a nossa margem...
Beijo

blue disse...

gosto, mar arável, gosto.

Anónimo disse...

Romeiro:
Tu que ajudas quem contigo se cruza
nesta "floresta" de ausências
onde os "sonos" transtornados se acalentam de pesadelos...
Tu que assistes a este "vai-vem" sem ritmo
onde pessoas "debruçadas", ao espreitarem o rio sem "espelho", se deparam com o "insólito"...
Tu que reconheces fragilidades em "bocas" ávidas de pão e de afecto banhadas por gotículas salgadas...
Secarás todas as lágrimas que caírem na tua aguarela azul!
princesa