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Transumantes de silêncios
filtram ventos
na folhagem
latidos de cães
nos mastros ancorados
temperam relâmpagos
com arremesso de pedras
aos pássaros
apascentam desertos
povoados de estrelas
legitimam os céus
Herdeiros de silencios
afloram
paletas de searas
dão de beber às fontes
às pedras esculpidas
à chuva
na boca dos amantes
Neste chão de ressonâncias
marés vivas
marnotos
marinhas valentes
e outros relâmpagos
transportámos
um sol de mãos cheias
à cintura um mar de sargaços
Nus de tudo
soprámos o espinho
que nos sangrava as pétalas
descobrimos as mãos
e os lábios
ao entardecer
dulcíssimos
oferecemos ao rio
uma rosa de sal
Morreu um Homem
mas não morreu o Poeta
Não deixemos morrer os nossos mortos
Na véspera dos relâmpagos
os pássaros são eternos
conforme os apeadeiros
renascem ao som da folhagem
oferecem o corpo inteiro
e o desejo
pestanejam vírgulas
lábios remos e passos
numa cadência de asas
Na véspera dos relâmpagos
o mar organiza outros azuis
utopias em movimento
amplas claridades
sem âncoras nem limites
como nós
presos a um sopro de vento
Trago à palavra
a queda de uma folha
Estava a vê-la
transportar desamores
à pergunta de um sopro
que a libertasse do galho da videira
Foi hoje
pé ante pé
no torpor do sono
Sem dono nem destino
simplesmente caíu
para alumiar o chão
onde se deita
Solta de cores
participa espontânea
na construção de linguagens
a preto e branco
No Outono a minha árvore preferida
fica mais leve de palavras
chega a passo
desnuda-se da folhagem
para desafiar o vento
a soletrar hinos incomensuráveis
pelos dedos
vem habitar
um chão de estrelas