sábado, 29 de outubro de 2016

HALOS LUMINOSOS



                                                                                             
                         

                                                                   MAGRITE


Incomensurável
num rasgo de lucidez
o mar
já nos havia entrado pelo corpo
num abraço de limos

com bandeira e sangue 
de cores lúcidas
lá estava inteiro
nos halos luminosos
da vasta sede

até arder de novo
a madrugada
passo a passo
nos lábios
da romãzeira

Eufrázio Filipe



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

NA TUA VOZ





Cantavas
cantavas
cantavas

e eu não sabia
se eras tu

ou um pássaro
do alto

a prender-me o olhar
na tua voz

Eufrázio Filipe
publicado em 2014 agora reconstruído

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

CHAMO-TE MAR






Sonâmbulos de olhos abertos
os rios seguem o caminho das águas

ergo pela cintura
o teu corpo alado

chamo-te mar
na ausência dos pássaros

canto em campânula
no ouvido dos búzios

Eufrázio Filipe

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A SÍNTESE DA NUDEZ






No chão das marés
vermelha nas pétalas
despontou uma flor
que se mexe
como as pontes

nas mansas águas
a síntese improvável
da nudez

Eufrázio Filipe


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

ONDE VIAJO







Há um sulco invisível
nas águas
onde viajo
e me transformo

Eufrázio Filipe

sábado, 15 de outubro de 2016

SOMOS ONDE ESTAMOS



                                                                                      EDUARDO GAGEIRO




Em redor
excitante
nesta ilha
move-se um corpo
de metáforas

somos onde estamos

mas se tivéssemos um barco
com brilho nos olhos

nem tudo seria inútil


Eufrázio Filipe

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A FINGIR DE BARCO






A respirar por guelras
subi ao chão das águas

lá estavas

à minha espera
a fingir de barco


Eufrázio Filipe

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

UM FÓSFORO CONTRA O VENTO





Quando abri a janela
a deshoras
o mar uivava
cão lindo
no ciclo das marés

organizava sussurros
para dar sentido
a um sopro de vento

A noite estava escura
tão escura
que nem parecia noite

Foi preciso acender um fósforo
contra o vento
libertar
num traço a cores
o contorno das sombras


Eufrázio Filipe

terça-feira, 4 de outubro de 2016

PALAVRAS E OUTROS DESTINOS





A cantarolar metias nos púcaros
uma feira de barro

mas hoje estavas tão só
a apascentar azuis
murmúrios barcos
de mãos nos ouvidos

a cantarolar pintavas lábios
com os lábios
nas nossas bandeiras

mas hoje estavas tão só
imaculada inteira
a dar vida aos pássaros

Despiste-te
por um instante
no espelho do cais

só mas nunca isolada
nas tonalidades melódicas
dos mares desgrenhados

isenta de palavras
e outros destinos

Eufrázio Filipe