terça-feira, 26 de junho de 2012

FAÚLHA A MINHA NOITE



                                               Almada Negreiros


Quando se alumiou
a noite
estava mais escura
que o negro dos teus olhos

Lá onde os céus têm estrêlas
itinerantes
a sombra candente
de um traço
moveu-se como pêndulo
projectado no chão

desorganizou o tempo
o ritmo das marés

mas os teus olhos
continuam a ser
uma faúlha

a minha noite





terça-feira, 19 de junho de 2012

UMA FLOR VERMELHA NAS PAREDES DO CAIS


                                               Poema que me apeteceu reeditar


Não sei quem és
mas pelos gestos vieste por bem
rasgar o vento com as mãos
a neve dos meus cabelos
e eu cansado de florestas apócrifas
das palavras em bando
comecei a plantar árvores
vi os pássaros regressarem
em acordes
a luz das noites que não dormem

Na partilha de horizontes
o amor é revolucionário
voa nos mastros mais altos
garatuja búzios de sons
intervem por causas
muito para lá das utopias
e se levanta resiste
ao pôr do sol
mesmo que os barcos entristecidos
estilhacem
nos espelhos da água
algumas pedras com vida por dentro

Registo por um instante
o ar que nos move
pinto com a boca
uma flor vermelha
nas paredes do cais



quarta-feira, 13 de junho de 2012

CONTRA O VENTO QUE FAZ





A minha escarpa tem um postigo
com vistas para o mar

araucárias desgrenhadas
salivas e trovas silvestres
em desmaio nas areias

A minha escarpa tem um postigo
donde não se veem os céus

miríade de sentidos
mais longe o olhar errante
se torna flor e tempestade

Quando sopro estas pétalas
amados os rumores da água
desponto neste chão

pego-te ao colo
beijo-te os olhos
contra o vento que faz




segunda-feira, 11 de junho de 2012

SEARA NOVA



Seara Nova

um espaço de diálogo democrático

Imperdível


terça-feira, 5 de junho de 2012

ARTESÃO DE METÁFORAS





Nas margens do rio
onde habito
respiram pautas desertos
retratos íntimos de flores
a preto e branco

repousam mãos famintas

Nas margens deste rio
quando a noite amanhecida
não dorme
ouvem-se pêndulos vagares
cadenciados
agitam-se os dedos

o tempo ousado dos poetas
que não eu
artesão de metáforas

No fulgor das águas
desprendo-me
a profanar metáforas
para ver mais claro
o teu corpo antigo  baloiçar
nas paredes da casa