quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

BOAS JANEIRAS






Fundidos
à míngua de relâmpagos
que se vejam
ateados à passagem
de mais um ano

dezembrando

boas janeiras


 

sábado, 21 de dezembro de 2013

TUDO PELO MELHOR





Em família e outros amigos

Tudo pelo melhor


sábado, 14 de dezembro de 2013

O NATAL VAI COMEÇAR



                                         
                                  
                                



O Inverno faz as pessoas recolherem às cavernas para melhor se amarem.
Sacode-se nas árvores penadas, inventa polícromos arco-íris, manifesta-se quase lúcido contra a perfeição, faz trejeitos ao rosto. Ri-se nos olhos de toda a gente.
Lá no alto, por cima das nuvens de chumbo, levanta a voz dos relâmpagos e às primeiras pancadas de Molière, abre o pano. Vem ao palco e anuncia:

- Senhoras e senhores, a fábula " é uma pintura onde podemos encontrar o nosso retrato " .
- Que dia é hoje?
- Silêncio.
- Senhoras e senhores, meus amores pequeninos, ides assistir à mais fabulosa história da minha estação.

As luzinhas furta-cores são as mesmas. O mesmo barro, o mesmo pinheiro, o mesmo musgo, as mesmas pedras. A mesma estrelinha na carapinha do mesmo presépio. O mesmo rebanho, os mesmos pastores, a mesma palha, o mesmo bafo.

Ides ser cúmplices dos animais, dos anjos que vão cair pelas chaminés nos sapatinhos dos meninos ajoelhados  - até ao momento em que um qualquer galo cantará.

Lá fora as ruas estarão um sonho - até nos olhos colados dos outros meninos, na montra dos céus.

Tudo será luz nas casas iluminadas, nos corações vibrantes, menos nos olhos sem abrigo.

- Senhoras e senhores - vai chover. Amai-vos uns aos outros.

Eu sou o Inverno e o Natal vai começar


 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A NOSSA ROMÃ ( 8 )



 

 
 
 Com um dedo escrevi palavras nos teus lábios e tu disseste que melhor seria falar por gestos. Foi assim que decidimos navegar abolir todos os destinos agitar as águas.
Gáveas ao alto âncoras levantadas vigílias abertas sem vírgulas - aqui neste chão de claridades - recomeçaram os sons de Tchaikovsky e as sombras vivas dançaram na luz vertebrada dos pavios para os objectos mais íntimos se projectarem nas paredes do cais.
Desiguais pensávamos nos apeadeiros. Reconhecíamos que a gravidade das luas não é homogénea muito menos os seus impactos quando relampejam nos nossos olhos às mãos cheias.
No mais claro das noites trazias mares no regaço. Difícil foi deixar nas ameias o perfume das algas o marulhar das marés.
Na verdade bastava um toque à flor da pele atear um fósforo só para te ver infinitamente grande ventre de grânulos vermelhos a respirar por guelras em todos os mastros - como se fossemos de novo crianças a rasgar caminhos e as flores pintadas à mão renascessem nesta desordem de cores nos jardins.
 
 
 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

NELSON MANDELA UM RIO CAUDALOSO





Nelson Mandela não foi um homem bafejado por divindades - foi um HOMEM íntegro, de carne e osso, soldado maior que o exército desavindo seguiu.

Na vida há HOMENS incomensuráveis, de quando em vez, extraordinários exemplos singulares - que sonham mais alto e se tornam bandeira, herança de luta.

Mandela foi uma minoria esclarecida que se expandiu como um rio caudaloso, em delta, até os céus e o mar se tornarem mais azuis.


 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A NOSSA ROMÃ ( 7 )







O Inverno gatinhava os primeiros passos, prometia  chuva abrupta e ventos norte, mas não passava de uma estação dócil , instalado na corrente das marés.
Reunidos no porão, começámos a falar coisas improváveis como se fossem verdades absolutas - e eram - tão verdadeiras as verdades que dizíamos, que nem pareciam improváveis.
A mesa estava posta mas a história não era linear à luz entristecida dos relâmpagos.
Nós sabíamos quase proféticos que uma colisão de galáxias faria explodir luminosidades no chão que pisamos e só um deus poderia criar Pandora.
Recordei o dia em que me desnudei para dizer a uma pedra com vida por dentro - o amor é revolucionário - e a pedra em chama se levantou.
Estávamos reunidos no porão, à margem do cântico dos pássaros, quando alguém fez um apelo - não contaminem as águas - e o barco sem que nos apercebêssemos aflorou um areal.
A noite não estava clara mas via-se perfeitamente nos apeadeiros da vida.
A reunião terminou sem conclusões. Desembarcámos a pensar uma vez mais ter descoberto a Taprobana .
O Dique ladrou com ternura para as estrelas e ao longe, ali tão perto, um vulto belíssimo, de contornos ancestrais seduziu-nos como se estivéssemos no princípio da fala.
A caixa foi aberta. Testemunhámos o improvável.
Lá no fundo, liberta de todos os males, sem mácula - a nossa romã dava sinais de acreditar.