domingo, 28 de janeiro de 2018

DESVENDEI UMA PEDRA





Recolhido neste chão
de mares desnavegados
onde despontam camélias
e outros fascínios

quando me curvei
para beijar uma flor
simplifiquei o teu corpo

desvendei uma pedra


Eufrázio Filipe

domingo, 21 de janeiro de 2018

PALAVRAS INTERDITAS





Neste Inverno rigoroso
de mares adocicados
todos os destinos
com acesso remoto
aos esconderijos do teu corpo
começaram a despir memórias
que desvendam
palavras interditas

mas porque nada é urgente
beijámos as pedras
plantámos uma árvore no cais


Eufrázio Filipe

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O ADMIRÁVEL GRÃO DE AREIA






Correm em bando os teus olhos
por cima das searas e dos ventos
porque é preciso transgredir
rasgar o véu que se demora em fascínios
encontrar no corpo interior
um sinal primitivo de nudez
uma pequena distração de flor
que agite o ambíguo coração dos pássaros
e abra novos caminhos
por este mundo
onde todos os rios
deviam ser apenas água em movimento

Provavelmente só os teus olhos sabem
que na obscuridade mais imperceptível
há um brilho indígena em gestação

Eis a nova ordem emergente
a gota de orvalho que fende a luz
o admirável grão de areia
que não repousa


Eufrázio Filipe
#Que fizeste das nossas flores#



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A FINGIR DE PÁSSAROS





Num sopro de vento
há palavras esculpidas
que respiram por guelras

outras esgrimem aladas
na leveza dos gestos
a fingir de pássaros

acordam-me
a fazer versos 
ou quase nada


Eufrázio Filipe

sábado, 6 de janeiro de 2018

NA MEMORIA DAS PALAVRAS


                               

                                                                          Com a poeta Licínia Quitério na Ericeira


Quando reivindico um sopro de música
para o teu andar de ancas vagaroso
sobre a nudez branca das dunas
é para despertar o sabor do vento
desfolhar os teus cabelos

Quando reivindico um futuro quase divino
para as aves marinhas
que perfumam as clareiras solares
mais íntimas deste espaço
desejo apenas um porto seguro para o teu corpo
uma jangada efémera de cristal

Quando reivindico para ti um sonho verdadeiro
brotas do chão como um pomar de faúlhas
como se fôssemos uma lenda
em viagem sinuosa pelo tempo

És a pátria em alvorada que navego
e me desprende
o acesso intangível às brevíssimas papoilas

grão de areia esculpido com amor
na memória das palavras


Eufrázio Filipe
Publicado e lido na Ericeira numa iniciativa da poeta Licínia Quitério 2014

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

COM ESTES ACTORES O PAÍS ESTARIA MAIS FUNDIDO





Alguns poucos filiados com as quotas pagas vão eleger o chefe do PSD, futuro candidato a primeiro ministro. 
Rui Rio e Santana Lopes ligeiramente diferentes no timbre da voz. Justapostos no inquinado pensamento político. 
No "debate" enfadonho, esgrimiram memórias da caserna, exibiram um triste espectáculo patético e tartufo. 
Marcelo que almeja reinventar o país, quer um bloco central - mas com estes actores, o país estaria ainda mais fundido.