terça-feira, 27 de novembro de 2007

NO CHÃO SENHORA

foto de ana limp








Chegámos a este ponto . , - a este rio,a este riso com duas margens,



a esta floresta de silencios impenetráveis para os olhos,a este palco de palavras,



sonos e sonhos.





O dia é aqui o que menos importa,por isso digo apenas - chove como



um rio nas bocas abertas,nos olhos molhados.





As pessoas no subúrbio,correm,passam,trespassam,desandam de si,



consigo e do tempo que faz.





Chegámos a este ponto ., - a este rio com duas margens e uma ponte.



Aponte.A ponte.





Debruçadas - as pessoas - todas a olhar,apenas a olhar,no espelho do rio,



este riso com duas margens - só para se verem projetadas no insólito,



só para verem - gravatas tristes no tronco cinzento dos eucaliptos.





- É urgente acordar.

- Acordámos?

- Que dia é hoje?

- Pára-me esse motor,já me basta o ritmo das estações,o resto das unhas

roídas,espalhadas na mesa - e o empregado à espera - à espera porquê? -

de uma nesga de sol que lhe afague a bandeja de migalhas.

- Mas esta lágrima é sua ou fui eu que a inventei?

- Cinco euros para te retirares.

- E a lágrima?

- Paguei para te calares.

-Estava no chão,senhora.

- Morre,eu paguei.





CAI O PANO



NÃO EXISTE PANO



O TEMPO PASSA







domingo, 25 de novembro de 2007

HUMANIDADE NÃO TEM SEXO


ana luisa kaminski








PELA IGUALDADE



ABAIXO A VIOLÊNCIA DE GÉNERO



A HUMANIDADE NÃO TEM SEXO




quinta-feira, 22 de novembro de 2007

ÁGUA EM VEZ DE CHUVA

renoir










São cabelos em tranças

velocíssimos rios suspensos

esta chuva magoada



que se desprende

no declive da aragem

e nos afoga



ou somos nós

de tanto olhar

em pleno voo



a respirar um sono profundo

enquanto o musgo cresce

e nos invade a fala



no preciso momento

em que inscrevemos no corpo

palavras infinitas



raios de luz

vestigios de incêndios

que apodrecem nos teus cabelos



ou somos nós

esta chuva incolor



com vergonha de ser água








terça-feira, 20 de novembro de 2007

OTA - POR UM MAÇARICO

maçarico de bico direito








Na selva dos grandes interesses e frágeis argumentos para a não localização



do novo aeroporto em Alcochete,a engenharia canora descobriu - só agora -



o maçarico de bico direito.



Não resisto a perguntar-me,a perguntar-vos - o que alguém já perguntou





ONDE VAI FICAR O AEROPORTO DA OTA?




domingo, 18 de novembro de 2007

AMAR UMA PEDRA

white rock










Todas as fendas da água



dão guarida ao movimento e se desnudam



enquanto a pedra partilha os seus esconderijos





Na respiração do azul



onde os peixes se eternizam



partem anémonas para os silos dos sonhos



mas só algumas pautas musicais



quebram o ritmo das marés



quando as mãos se tocam



para atear fogueiras dentro de nós





Todas as fendas da água



levedadas



entoam hinos



e se transformam na síntese de outros cânticos





Só assim se explica como é possível



amar uma pedra




quinta-feira, 15 de novembro de 2007

SARKOZY - TAMBEM POR CÁ

foto-Ricardo Oliveira/gpm








Após um matrimónio feliz nas urnas eleitorais



a direita política aplaudiu o que parecia um casamento



em comunhão de bens.



Entretanto Sarkozy enfrentou um divórcio por mútuo acordo



com a senhora sua esposa.



Agora,ainda não refeito,enfrenta um divórcio litigioso com os trabalhadores



e os estudantes - que lhe dão muito mais luta.



A reforma da administração pública



tal como cá - é uma prova de fogo



para a direita política.







O FIO DA MEADA ( 5 )

manneken pis








O frio era tanto em Bruxelas que até o Manneken Pis ostentava



um arco gelado de água potável em vez do célebre mijo corrente



que o tornaram lendário.



Devotos e de olhos perfeitamente vidrados,os basbaques



disparavam ofegantes máquinas fotográficas e tentavam interpretar



de vários ângulos a "religiosidade" do fenómeno.



Na verdade o menino não mijava conforme a lenda.



De repente,o arco gelado - quebrou-se - fulminado



por uma gargalhada estridente de um turista.



Só podia fazer o que fiz - comovi-me perante o lancinante



e dramático coro de lágrimas da assistencia,sem conter um sorriso



quando alguém delirou



Milagre.



Finalmente a estátua mijava.







quinta-feira, 8 de novembro de 2007

CLARIDADES

gota-em-vermelho








Os objetos movem-se



nas paredes da casa



enquanto a luz vertebrada da vela



se consome em babas de cera





Porque somos frágeis como o cristal



e por vezes mais fortes que o seu brilho



nas cabeleiras deste lume



ardem palavras de sonho



mas não as suas claridades






O FIO DA MEADA ( 4 )

Luiz XIV - o rei sol

deu brilho e charme a Paris.

A cidade luz cintila até nas belas pernas das mulheres.

Aqui a noite está naturalmente escura

mas vejo bem como os gatos e as estrelas.

Apesar de tudo optei em alternativa por experimentar


cuisses de grenoville ao jantar.


Obviamente - entrei no hotel a saltitar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

FALAR NO SILENCIO

foto de gamini kumara








O céu quase sem altura



poisa no chão



a brandir asas e refulgências





a terra abre-se sedenta



em papoilas de água



para os lábios





o mar puríssimo



ergue-se em partículas



de alaúdes e violinos





São os primeiros acordes



nas bocas rasgadas



e agora?





que vai ser de nós minha pedra preferida



se não aprendermos a falar



nos mesmos silencios