terça-feira, 27 de novembro de 2012

NO ESPELHO DA ÁGUA





Enlouquecidos
os cães uivavam
quando te debruçavas em arco
só para ver os barcos soltos
na volta da pedra

Silvestre
à hora do vento
no ramo mais alto
da minha árvore preferida
incantatória
vinhas à janela
só para ver

e eu lá estava
no espelho da água
a colher-te

Ainda hoje de tão perto
não sei quem és
mas sei que existes

e te desfolhas




 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PÉTALA DESPRENDIDA






Para celebrar o hino
apócrifo do vento
nos barcos desgrenhados
respirámos fundo
a essência dos sargaços
e o mar inteiro
sem idade
mal coube nas nossas mãos

Estávamos tão íntegros
a hastear velas
no branco inconsistente das salivas
a riscar sulcos na água
garatujas nas paredes do cais
que não contive
nos teus olhos

uma pétala desprendida

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

OS NOSSOS MILAGRES SÃO FÁCEIS DE EXPLICAR





Muito antes da casa
aqui passava um rio de pomares
nas margens
cohabitavam romãs
penduradas por um fio
ainda hoje
projectam na água
o corpo que lhes dá forma

simplificando

aqui nas paredes da casa
onde passa um rio
não há romãs
mas de tão desejadas
existem

repartem-se como pão
bago a bago
nas nossas bocas

e assim aprendemos
que os nossos milagres
são fáceis de explicar


 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

QUANDO O POVO QUISER





Quando o povo quiser

se o povo quiser

não ficará uma pedra no chão


 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

GREVE GERAL POIS CLARO





Cá estaremos de pé
com fortes convicções
militantes da vida
pelos " filhos dos Homens que nunca foram meninos"

 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

À FLOR DA PELE




Os teus olhos pássaros

espantados

dedilham um rio

à flor da pele

 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CHAMEI-TE MAR



 
 


No mais íntimo da pele
desgrenhei o vento
para te desassossegar os cabelos

escrevi na água
da chuva
para ver
como as palavras
se desmoronam

No mais íntimo da pele
lá estavas azul
tão azul tão azul
que te chamei mar

e já é tanto