segunda-feira, 31 de março de 2008

SEDIMENTOS

GEORGES LAUGEE


Nos braços que "eternizam" este rio

procuramos o rosto do lume

que precisamos

para incendiar palavras

"ensinar-lhes"

a linguagem dos gestos

e nas flores o vinho das abelhas


Segundo as pautas do silêncio

por muito que se contemple

o ventre deste rio

seguiremos sempre o eco

longínquo e bolhoso das rãs

o coaxar dos remos

a canoa azul

mesmo nos apeadeiros da memória

até à foz

no desaguar dos rumores


Nos braços deste rio

é preciso saber escutar

o rumo do sangue

tatuado nas veias

mesmo que embriagado

de memórias e paisagens


muito mais

que esta navegação de migalhas

onde só faltamos nós

os sedimentos


quarta-feira, 26 de março de 2008

NO TRILHO DO VENTO




Queria que aprendesses
a navegar
o teu caminho
por aqui
neste chão de claridades
e outras brumas

te demorasses no cais
audível
em sinfonia de oboés
por sobre as margens
e as despojásses
de barcos ancorados

a brandir
alguns voos solidários
mesmo que fosses
nos interstícios tangíveis
o perfil da luz



Queria que fragmentasses as arestas
em ninhos organizados
revelasses os silêncios
nos torvelinhos deste mar


mandasses palavras às paredes
soletrásses
as nossas pétalas de sal
como se fossem cinzas
em chama viva
enleadas na paisagem


amanhecesses sem amos
no declive das marés
plena
de cardumes musicais


mas tu insistes
em ser a minha pátria


movimentas no trilho do vento
um coração de ave

sábado, 22 de março de 2008

VAGAROSO INSTANTE






Logo hoje que era preciso

rasgar destinos

ajudar

o grito das marés

acordar as pedras brandas


subi às colinas

e adormeci

nos halos luminosos

dos teus cabelos de prata

com salpicos de barcos

e gaivotas


Logo hoje que era preciso

crescer em casulo

na voz dos búzios


a voragem do sono

arredondou-se

e assim fiquei

à espera de um toque para voar


Logo hoje

subi às colinas

e adormeci

só para te ver

vagaroso instante


segunda-feira, 17 de março de 2008

FLORDEABRIL






Hoje vi com os meus olhos

uma santa mulher

asfixiar um pássaro

nas mãos

só para desenhar no chão

a dor que sentimos


Chamei-a

para deixar nas areias

um beijo côncavo

e permanecer

até a memória arder

os últimos barcos

as algas discernirem

de olhos abertos

todos os ritmos das marés


Chamei-a

para esgrimir contra

a invenção dos destinos

erguer o seu corpo

de grânulos

e recolher todos os beijos disponíveis


Chamei-a

para acordar o sono

deste chão

libertar os pássaros


Hoje vi uma mulher

amada

esculpida na praia

que traz nos lábios

a minha flor de Abril


sábado, 15 de março de 2008

SÓCRATES EM FESTA





Em dia de festa a casa pequena estava cheia

de bandeiras que escondiam pessoas.

Quando soaram as 3 pancadas de Moliére

ainda Sócrates se maquilhava.Decorava um improviso

precisamente o seu género mais apetecível - a farsa.

Porque não aceita que a Páscoa seja uma passagem

aparentemente distraído assumiu o papel de vítima

- o último pão fora da muralha.


1ºACTO - demorou tanto tempo a entrar em palco

que o pano de cena levantou-se mas sem assistência

na plateia - só bandeiras.

2ºACTO - demorou tanto tempo em palco

sem assistência que o pano de cena baixou por falta

de pacientes.

3ºACTO - na rua e até nos bastidores uns batiam

palmas - outros faziam contas à vida.


Sócrates ainda pensa que o país está em festa

e talvez por isso permaneça em cena

cego e surdo - a gesticular.


segunda-feira, 10 de março de 2008

TALVEZ PRIMAVERAS






Nesta luz o silêncio
de todas as luas sibilinas
o sonho esculpido
que faz gestos
no bolor das pedras
e os cegos
que já não comem violinos
só botões de rosas
e andorinhas


Se nesta luz existissem arados
com ternura infinita
esta terra paria
numa carícia de suores
este mar seria
a fala de outra luz
a pele em riste
exposta contra a naúsea
a esculpir pedras vivas

Se nesta luz existissem arados
a rasgar destinos intangíveis
no teu corpo
eu via
uma pátria navegável
povoada de cristais
um concerto de faúlhas
a despontar azinhagas


talvez primaveras



domingo, 9 de março de 2008

MOVIMENTO ESPERANÇA PORTUGAL ?




Após o chefe do segundo maior partido político português

ter anunciado que não está preparado para assumir o poder

e reconhecer que o primeiro partido político português

não tem condições para governar - eis que surge o M.E.P.

O m.e.p. do dr. Rui Marques não se considera um partido

mas um movimento - não tem por objectivo o poder,

mas a construcção de pontes - não é contra ninguém

mas a favor de todos - não fomenta o desânimo

mas a esperança - nunca será um partido de militantes,

mas de cidadãos comuns - não será um paraíso ao virar

da esquina com referências confessionais,mas sempre dirá

levanta-te e anda - defenderá um estado menos prestador

de serviços mas nunca as privatizações.

O m.e.p. não se situará à esquerda,nem à direita,

nem ao centro - tão só ao centro do centro - isto é -

entre o p.s. e o p.s.d. - com políticas idênticas.



Alguém já chamou ao novo messias - o salvador

da pátria - isto é - o fiambre

numa tosta mista.

sexta-feira, 7 de março de 2008

O DIREITO À INDIGNAÇÃO








É PRECISO INTERVIR



CONTRA A INDIFERENÇA



PELA DEFESA DOS DIREITOS



E DO REGIME DEMOCRÁTICO






terça-feira, 4 de março de 2008

INOCENCIA




Quando os muros são de vidro

parecem transparentes

cresce a fala no teu corpo

são grandes os teus olhos

finíssimas as águas

de todas as tuas fontes



vivem encarnados os peixes

na tua boca

e correm por ti os gestos simples



cresce a fala

sabe a terra húmida

o teu corpo lavrado

e sussurram nas papoilas

a leveza das mãos



Assim se viaja

bebem orgasmos

para espanto

da inocência