segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

MAR DE PÉTALAS



                                                               Óleo de Vladimir Volegov                                                                

                                                   

Recolhida num instante
eras o rio
a desaguar em flor
no espelho das águas

desfolhavas-te

excessiva e bela

num mar de pétalas

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O OLHAR DOS MASTROS





Em homenagem à memória
um dia deixarás
nos retratos do espelho
todas as pátrias inventadas

reconstruirás pedra a pedra
o arco das pontes
para os barcos navegarem
adentro por sobre as águas
num rio de azuis

sem margens
nem destino

Nesse dia
tudo fará sentido

até o olhar dos mastros


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SEM MUROS NEM AMOS (2)







Um vaso de barro
exibia estrelícias
a crescerem minguadas
na boca das sementes
desapercebido
do espaço exíguo
onde viviam

parecia incólome
no conforto do jardim

até as flores se desnudarem
das cores
estilhaçarem grilhetas
e sereníssimas
habitarem o chão

sem muros nem amos


 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ANDARILHOS







Lá fora as árvores tirintam
no coração dos pássaros

Tudo parece gelo
até o ladrar dos cães

mas quando afagamos uma pedra
abrimos a porta

o sol entra pé ante pé
e nós cantamos
baixinho
para não acordar o silêncio
nas paredes da casa

Andarilhos pela vida inteira
percorremos rotas indecifráveis
traços de luz
neste chão
que nos faz andar
e atear fogueiras





sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ACORDAR RELÂMPAGOS





Mesmo que fossemos rios subterrâneos
à sombra dos choupos
sem impecilhos de pássaros

queria um mundo
para as águas soltas
desaguarem em liberdade

transformarem pedras
em obras de arte
searas azuis
ressonâncias cúmplices
movimento de marés e lábios
no bojo dos barcos

Mesmo que fossemos rios subterrâneos
queria partilhar esta sede
acordar relâmpagos
nos mais íntimos desertos

e tudo acontecer