Com tantos mares desnavegados começámos a desbravar caminhos repetidos quase perfeitos o fulgor das velas no cais na verdade já tínhamos nascido desnascido quase tudo quase tudo porque ainda hoje nas nossas veias os rios correm para o mar a chuva cai dos céus movimenta-se a memória das pedras águas ventos cumplicidades num abraço de limos tudo se move mas "sem a claridade dos pássaros o poema não voa" Eufrázio Filipe
Nestes dias há deuses de caruma que se agitam no coração dos pássaros lágrimas soltas na boca das sementes numa festa de faúlhas fui a janela para ver fiquei mais leve de palavras simplesmente chovia Eufrázio Filipe
Com tantas pedras partilhadas aqui estamos soltos na vertigem da escarpa a plantar árvores com vistas para o mar Aqui neste Outono para meu espanto despontam camélias no bico dos teus seios um sol de mãos cheias no trilho dos pássaros silvestres e nós desvendamos caminhos que resistem como se fossemos livres e somos de tão breves Eufrázio Filipe
Em que chão assenta o coro polifónico da chuva miudinha? em que chão o rio se desprende das magras águas? passo a passo onde arde na praia sempre azul o inicio do mar Eufrázio Filipe
Amanheci a desenhar o teu corpo a desfolhar uma rosa porque não uma rosa? todas as flores se desfolham também tu Rosa Eufrázio Filipe editora Temas originais Para lá do Azul
Cumprida a colheita decepadas as videiras sem lágrimas soltas na mesa redonda do alpendre só há lugar cativo para os pássaros timbres mais leves que as cinzas sopros de vento na folhagem desprendida Aqui em torvelinho se deitam os deuses do costume que não dormem palavras desalinhadas sinais de penas Eufrázio Filipe