A pedido dos monges da Arrábida foi construída uma fortaleza para proteger o litoral. A vida pode ser uma surpreza. A fortaleza, hoje museu oceanográfico é uma referencia no corpo da serra.
Deslumbrados com o património florístico e os monumentos geológicos deste sopro da natureza, percorremos magestosas paisagens na bio-diversidade deste ecossistema.
Desaguámos na enseada do Portinho, numa das mais belas baías do mundo, no espaço poético de Sebastião da Gama.
A doce Arrábida debruça-se abrupta em madeixas de verdes até afagar o rio azul, à vista de roazes e finíssimas areias.
Na esplanada de um restaurante, com os olhos nos olhos dos peixes e dos albatrozes, distribuíamos miolo de pão, saboreávamos salmonetes, nascidos, crescidos e baptizados no Sado.
Não fora a exploração desastrosa da alma e do corpo da serra para a produção de cimentos, uma ferida que sangra os olhos, mais a recente memória da incineradora de lixos tóxicos em nome do mercado de capitais, estaríamos sem máculas num pulmão que respira.
- A serra queixa-se do trangalhadanças.
Na mesa ao lado um sujeito de cabelo grisalho e nariz ponteagudo, tresandava a brilhantina. Levantou um braço, limpou-se a um guardanapo de papel e questionou-nos com voz falsete.
- Trangalhadanças? Estão a falar comigo?
- Naturalmente sr engenheiro.
22 comentários:
Apesar de tudo a serra continua linda.
Não gosta é da visita no engenheiro naquelas paragens...
Beijos
esta indissociável ligação corpo e sangue
terra e água
e o teu olhar
e a voz primordial
mais um beijo
O PORTINHO É BELO QUANDO VAZIO POIS QUE SEMPRE QUE A GENTE VEM... ALGO SE OFUSCA, E ATÉ MESMO AS ÁGUAS, CREIO ,PERDEM UM POUCO DA SUA LUMINOSIDADE. AGORA A SERRA FONTE ÚNICA, REPOSITÓRIO DO MAQUIS, UM BEM MUITO NOSSO QUE SE DEVE PERSEVERAR.ENGºS HÁ MUITOS TAL COMO OS CHAPÉUS...
Bj
Trangalhadanças... Entendi. Ou julgo que entendi rsrs
:)))
Também gosto da tua prosa... e da Arrábida, sem o sr engenheiro.
Um beijo e boa semana
Ru diria antes que, A VIDA É SEMPRE UMA SURPRESA!
Deixo um beijo amigo, com votos de uma semana feliz, repleta de boas surpresas,
Maria Faia
gosto bastante da serra mas a fabrica de cimento é um crime contra uma natureza tão bela
...
na noite calma,
a poesia da Serra adormecida
vem recolher-se em mim.
E o combate magnífico da Cor,
que eu vi de dia;
e o casamento do cheiro a maresia
com o perfume agreste do alecrim;
e os gritos mudos das rochas sequiosas que o Sol castiga
--- passam a dar-se em mim.
E todo eu me alevanto e todo
eu, ardo.
...terra-mãe, poemas.
Obras de Sebastião da Gama
Ab.- EL.-
Essa serra, essa praia, essa pedra...são lugares que fui fazendo cada vez mais meus, sinto-os hoje parte de mim. Por isso, cada vez mais me dói essa ferida aberta que nunca se conseguiu fechar...uma vergonha, com ou sem engenheiros, sejam eles quais forem, é todo o país que se devia envergonhar.
~CC~
É um lugar magnífico, a serra da Arrábida - que é urgente proteger!
Votos de uma boa semana :)
engenheiro?
jura...
quem diria.
mas está bem.
fico-me pela prosa que essa sim é verdadeira.
:)
beijoooooooooooooooooo.
Sangra-nos os olhos efectivamente...! Uma bela serra se não não estivesse à mercê dos senhores engenheiros!
Uma prosa irrepreensível!
Abraço
gostei de ler e de saber :) e da palavra nova!
Fantásticas palavras em prosa!
Com quem havia de ser? :-)))
Abraço.
Deixei no meu canto um presente simbólico para si.
Aprendi com Sebastião da Gama a amar a serra da Arrábida.
Mas " A serra queixa-se do trangalhadanças", sim.
Um abraço.
Eufrázio,
gostei muito do passeio ! nem reparei no trangalhadanças! ;)
um sorriso :)
mariam
Interessante texto... gostei
Abraço
Cristina
Venho encontrar-te a escrever sobre a Serra que vislumbro da janela onde estou neste momento!
As tuas palavras são belas...
Levantei-me... fui observar mais uma vez a Serra da Arrábida e Sorri...
Bom final de semana.
Beijitos.
Feridas na bela natura.
Achas que o engenheiro ouviu falar de Sebastião da Gama? Não creio.
Um texto pleno de razões.
Abraço.
Naturalmente, sr.engenheiro, já é tempo de alguém abrir os olhos.
De parar a marcha destrutiva do tempo e dos homens.
Limpe o suor, mais uma vez, sr. engenheiro, porque a Arrábida não mereceu nunca, nem nunca merecerá um crime destes.
Abraço, Eufrázio.
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