na verdade a água corpo líquido de mulher tem segredos escondidos no fundo das pedras alimentos de fogo talvez uma praia onde se fundem areias e lábios um piano de luzes que determina o tempo das estações
Ainda bem que tens ilhas selvagens sinais apócrifos que se desnudam em gestos simples no pestanejar de uma vírgula
Na verdade a água sabe rir e chorar no espelho das próprias lágrimas no rumor das maresias e eu descobri uma vez mais que tens poros por onde respiras silêncios escarpas por onde escorrem salivas
que te ergues e desmoronas abrigo e mensageira te desprendes do chão ou hibernas nos corais
Que bom ainda hoje partilhar contigo este despertar aprender pela vida fora a descobrir-te como se fosse a primeira vez
deixar por um instante a outra água para os peixes se moverem
Na tremulina deste mar que não se consente agrilhoado mesmo que seja breve o azul no perfume das águas mesmo que o cíclico pássaro de plenas asas adocique o bando não te vejo a abandonar a luz clara silvestre dos relâmpagos
o ar que respiras pelas narinas do vento continua a movimentar-se agita as dunas grita nas falésias contra a absolvição dos destinos
submerso no chão das maresias um dia virás à tona tanger um hino à ternura das tempestades
o brilho dos teus olhos de tão órfãos ainda terão uma pedra