segunda-feira, 11 de março de 2013

NA BOCA DAS SEMENTES



                                                                    
                                                                  Álvaro Cunhal (desenho na prisão)


A noite estava tão fria
desencantada
anoitecida
nos ramos das árvores

e os cães uivavam
para as estrêlas

Íntegros por sobre as pedras
no caminho das águas
traçávamos linhas
a carvão em folhas de papel
ousávamos transgredir
à tona dos lábios
o fulgor alumiado
dos cristais

Estava tão frio
mas nas ruas despontavam coros
centelhas de cravos
pavios
na boca das sementes
para alimento dos pássaros

 

25 comentários:

jrd disse...

E os pásaros livres comeram e cantaram!

Aline Carla Rodrigues disse...

Lindo, triste e muito dolorido ao ler. Ainda bem que existe um novo amanhecer para cada ser.

Lídia Borges disse...


Apesar do frio, foi bom vir aqui colher uma centelha para acender, com ela, o verde que pode esmorecer, mas não morrer.


Um beijo

Rogério G.V. Pereira disse...

Voltará a acontecer
Com cravos nas vozes

luis lourenço disse...

Os cravos são vermelhos como o teu coração-Poeta.

Abraço,

Véu de Maya

Janita disse...

...e na noite fria, centenas de milhares de pavios iluminaram e deram voz às bocas sedentas de sementes, que ainda não germinaram...ou murcharam?...

Esperemos que pássaros inquietos, impacientes e ansiosos de justiça, renovem a sementeira!
Que a colheita seja farta e de boa qualidade.

Um abraço!

Sandra Subtil disse...

Há histórias que se repetem.
Beijinho

Anónimo disse...

Nas margens, o calor da fusão.
Cristais, quartzo, feldspato.
Projectos em linhas e a semente do 25 de Abril.
Quem espera sempre alcança...
Vermelho de sangue e Verde de seiva.
E viva,viva o sonho esperado da Liberdade!

lis disse...

Quão grande é 'ousar transgredir' e poder vislumbrar centelhas ...

Branca disse...

Belíssimo, com a esperança e a força que nos deixas nas palavras e com o exemplo de persistência e resistência de um grande Homem, que fazia desenhos na escuridão da sela, a caminho dos cravos e da luz de Abril.

Ideais que hão-de voltar.

Beijos

ana disse...

O frio da noite que nos assola bem merece ser cortado com estas "centelhas de cravos" que iluminam cada vez com mais força.
Tenhamos esperança.
Beijinho. :)

Ailime disse...

Genial o seu poema com um significado enorme! Os cravos vão florir de novo, porque continuam desenhados(gravados) na alma do povo. Beijinhos Ailime

Silenciosamente ouvindo... disse...

Ler,sentir,reflectir.
Gostei do desenho do Álvaro Cunhal.
Que falta que ele hoje - mais do
que nunca - faz.
Bj.
Irene Alves

Canto da Boca disse...

Que nunca nos faltem transgressões e transgressores para nos alimentarem os sonhos...

Sónia M. disse...

Centelhas de cravos
que um dia
voltarão a iluminar
o chão dos pássaros

Beijo
Sónia

Maria João Brito de Sousa disse...

Também escolhi um desenho de Álvaro Cunhal para o soneto que, com muita dificuldade, publiquei no blog do sapo... mesmo os menos saudosistas de entre nós lembram as sementes e as águas de Abril...

O meu abraço, Mar Arável!

Justine disse...

E o frio, assim, começará a diminuir...

Virgínia do Carmo disse...

O frio não há-de ser maior do que os gritos dos cravos.

Um abraço, Eufrázio

poetaeusou . . . disse...

*
na boca das sementes,
residem as esperanças,
da lezíria expectante,
entrosando o trigo,
no calor da papoila,
tolerando o joio,
no mar das searas !
,
marés de luz,
das cativas janelas,
viradas para o mar,
negrume no antanho,
libertas agora,
de um actual Peniche,
e sempre filho Nazareno,
deixo-te,
para ti,
e para o AUTOR do desenho,
numa cela, que todos os
Portugueses podem visitar !
*


tossan-press. disse...

Poesia pura e boa!

Existe Sempre Um Lugar disse...

Adorei o sol em movimento

Ailime disse...

Poesia de que gosto! Magnífico poema. Bj Ailime

OceanoAzul.Sonhos disse...

Apesar do frio, era acolhedor o sentimento.

abraço
cvb

The Perfect Stranger disse...

na boca das sementes
para desassossego das sombras
remos velas e rotas
encontram o caminho
no dizer de ser
mais que as rotas
o desígnio de marinheiros
chamando os poetas
com cânticos de sereias

Sopro Vida Sem Margens disse...

O calor das coisas é sempre a luz impúbere na narração das ruas. É sempre, a chuva que aliás agora parou, logo a seguir à noite, onde os olhos se olham entre dois lábios ansiosos na boca.