quinta-feira, 13 de outubro de 2011

VERDADES IMPROVÁVEIS






Inesperadamente desenhei uma flor
soltei-lhe as pétalas

cadenciadas
silvestres
musicais
neste chão de marés

Foi preciso agarrar o vento
pelas tranças
esculpir um grão de areia
para a vida despontar num sopro
e a luz de corpo inteiro
se libertar pelas fissuras da pedra

Inesperadamente
antes da chegada dos belos relâmpagos
desenhei uma flor encarnada
que se desfolhou
para resgatar memórias
e outros silêncios

Foi preciso calar os cães
convocar os pássaros

surpreender-me com a evidência
e construir de novo
verdades improváveis



 

41 comentários:

Maria disse...

"agarrar o vento pelas tranças" é uma imagem bonito. Quando o conseguimos fazer conseguimos quase tudo...

Beijo.

Artes e escritas disse...

Um poema belíssimo, onde o resgate é possível. Um abraço, Yayá.

www.amsk.org.br disse...

Se falarmos alguma coisa estraga o momento. perfeito.

5 bjs

Canto da Boca disse...

(eu gosto muito da transitoriedade da vida, sabe?
e fiquei daqui imaginando as flores desenhadas, saltando do papel que as prendiam, ganhando vida, enchendo o ar de perfume, cores enfeitando a vida, e enfeitando de novo a verdade, que se pensou improvável!
lindo, lindo!)

Maria Flor disse...

admirável o que se lê neste mar arável.

folha seca disse...

"surpreender-me com a evidência
e construir de novo
verdades improváveis"

Caro Eufrázio
Vejo neste excerto uma verdade adequada aos tempos presentes. Sim há verdades que "já" julgávamos improváveis, que vamos ter que construir de novo.
Abraço

ana disse...

Quando se desenha uma flor cumpre-se o amor. :)

ERA UMA VEZ disse...

"Foi preciso calar os cães
e convocar os pássaros"
para que a caravana passe

"Foi preciso agarrar o vento pelas tranças"
para que não leve tudo desvairado
para que a nossa terra em desalinho
salte o muro
fique de esperanças
passe pelas agonias naturais
e seja capaz de parir futuro

Virgínia do Carmo disse...

Há quem não saiba como se desenha uma flor. Ou como se agarra o vento pelas tranças. E há quem não chega a conhecer as verdades mais improváveis.

Mas esses nunca respiraram o encanto dos poemas.

[Verdadeiramente encantador.]

Um abraço, Eufrázio

marlene edir severino disse...

Tanto!

Ainda assim,
para construir de novo
verdades improváveis

Viajei nas belas imagens.

Belo, Mar!

Abraço daqui de Mar
de Marlene

lino disse...

Cada vez mais fazem falta as flores encarnadas!
Abraço

mfc disse...

Temos obrigação de construirmos a nossa verdade... mesmo que imaginária!

Isabel disse...

Gostei do poema e achei a escultura, cuja fotografia apresenta, absolutamente fantástica.
Onde está colocada?
Um abraço

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Querido poeta

Quem como os poetas para reconstruirem essas verdades, que estão vedadas a muitos.

Um beijo
Sonhadora

antonio ganhão disse...

Vivamos a vida nem que seja esculpindo-a grão a grão...

Mona Lisa disse...

Vamos construir a nossa vida, mesmo sonhando...

Bjs.

Maria P. disse...

Que saudades que tinha de vir aqui!

Beijinho*

Branca disse...

Sim, Eufrázio, é sempre refrescante vir por aqui e apanhar estas pétalas de uma flor encarnada para reconstruir as verdades improváveis, que nos farão agarrar o vento e voar com os pássaros...

Um hino de esperança, foi assim que li, de entre muitas outras leituras que poderiam ser feitas. Daí a riqueza deste poema, que pode muito bem ser um novo "poemarma", num caminhar de vida por um amor maior...

Sim, porque é urgente que o poema volte a ter o seu papel:

"que se levante e faça o pino em cada praça"...

Muito bom.

Deixo beijos

Sara disse...

Leio este poema como um repto encantatório à construção. E espero bem que assim seja. Já basta de destruição por via de mentiras mais que prováveis.
Um abraço.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

não se devem soltar as pétalas mesmo que seja num poema.

gostei muito.

um bom domingo!

beij

© Maria Manuel disse...

não tenho tido possibilidade de passar pelos blogs de minha eleição, mas é com prazer que volto hoje a ler a sua poesia, sempre magnífica.
a imagem é uma escolha excelente!
e, sim, como precisamos de abrir pétalas, convocar os pássaros e reconstruir os tempos.

excelente poema, abraços.

OUTONO disse...

...imagem bela, real no seu infinito!

R. disse...

É esperançosa e bela a ideia de construir "verdades improváveis", certamente o gérmen necessário ao empenho na sua concretização.

Um abraço.

bettips disse...

Vi o tempo todo que andámos... até chegar àqueles novos seres que se indignam.
Somos semente, somos cimento das verdades.
Abç

Fê blue bird disse...

Essa flor cada vez é mais precisa.
Convocaste os pássaros, aqui estou!

beijinhos

luis lourenço disse...

Intenso e forte."Pelo sonho é que vamos"...Poeta.

abraço,

Véu de Maya

:.tossan® disse...

Não só a flor, você desenhou uma belíssima poesia e nos chamou apara contemplar. Beijo

Mª João C.Martins disse...

Na convocação dos pássaros, escrevemos. Escrevemo-nos. Porque as pétalas se querem soltas a inventar solstícios.

Um abraço fraterno, caro poeta.

OutrosEncantos disse...

é tanto, o que me apraz dizer-te.
tanto que nem me atrevo.
assim comento as imagens que nas tuas palavras invento:
... e vejo-te imenso e impetuoso agarrando as tranças do vento, na obediência dos cães e no alarido da passarada, a linha vermelha da flor que nasce das tuas mãos a bordar um chão das suas pétalas.
infinitamente belo, o teu poema, Mar!
beijo meu.

Justine disse...

Ah, como nós conseguimos ainda ir construindo verdades improváveis! De onde vem a força?

Nilson Barcelli disse...

As verdades são difíceis de construir. Mas as improváveis...
Abraço.

SAM disse...

Querido Mar,

A ilustração é fantástica e o poema maravilhoso. Gostei imenso. Obrigada.


Beijos com carinho

BlueShell disse...

Há sempre consequências para os nossos atos. Mas sejam quais forem...nunca devemos deixar de "resgatar" mmemórias.
bj

Manuel Veiga disse...

agarramos a crinas do vento e calvagamos. deixando as marcas de um tempo improvavel...

... sempre!~

abraço, meu Caro Poeta!

(a palavra é uma arma)

Sensualidades disse...

pode ser que o meu trabalho torne o deles mais leve hehe

Adorei o teu post

Bjinhos
paula

Rúbida Rosa disse...

Poeta,
Gostei imensamente deste teu poema: posso publicá-lo em meu blog, com os devidos créditos?

OceanoAzul.Sonhos disse...

Pois que resgatemos as memórias, silenciadas...

Lindo poema
abraço
oa.s

Anónimo disse...

Que o vento nos leve aos sonhos...

Beijos

Miguel Pestana disse...

Fantástico o poema e a escultura.Parabens pelo blogue :)



silenciosquefalam.blogspot.com

Hanaé Pais disse...

Verdades improváveis e tantas verdades!
Existe Eufrázio algo mais belo do que a verdade?
Pode chegar tarde, mas chega com as ondas do mar...
E tanto mar e tanta verdade...
Adoro a sua escrita é transparente como a verdade!
Bem haja por ter entrado na minha vida e me ter dado a conhecer a poesia da natureza humana.

Anónimo disse...

Adeus meu Amor!
Fui a Única que afinal conheci com todas as suas Verdades prováveis...
Adeus!