skip to main |
skip to sidebar
A última folha do Inverno
em pleno voo
cansada de todos os brilhos
libertou-se
quase etérea
num dédalo de luz
Ariadne desvendou os seus contornos
na inocência dos espelhos
celebrou por instantes
amplas claridades
e os barcos
para afagarem a sua nudez
se fizeram ao mar
Eufrázio Filipe
Quando luziam
relâmpagos
no risco dos fósforos
ficavam mais sábios
os gestos lentos
demoradas as mãos
a desgrenhar os teus cabelos
deixávamos
um rasto fluorescente
para as aves
fazerem ninhos
na palha dos mastros
mais altos
e assim
ancorados
partíamos
estávamos sempre a partir
no chão dos barcos
Eufrázio Filipe
Libertas-te por gestos
nas margens dos salgueiros
recolhes céus que desabam
no refúgio deste chão
Quando chove
na folha de papel
e se desmoronam as palavras
és o rio que mata a sede
timbre de outros mares
ergo-te pela cintura
és o meu rio
vicejas
num bailado de cores lúcidas
Eufrázio Filipe.
Neste chão de ressonâncias
marés vivas
marnotos
marinhas valentes
e outros relâmpagos
transportámos
um sol de mãos cheias
à cintura um mar de sargaços
Nus de tudo
soprámos o espinho
que nos sangrava as pétalas
descobrimos as mãos
e os lábios
ao entardecer
dulcíssimos
oferecemos ao rio
uma rosa de sal
Eufrázio Filipe (Presos a um sopro de vento )
As pedras marinhas de tão azuis
regressam à tona
juntam-se para respirar
a paciência das aves
cumprem destinos de migalhas
reanimam a voz oculta da luz
que se quer liberta insofrida
a coragem de lutar sobre ruínas
Eufrázio Fikipe