Quando te despiste em flor e revelaste a nudez já despontavam as camélias não por dádiva dos céus na vertigem das sombras muito menos porque o mar se ergueu num sussurro de azuis tão só depurada trazias gestos musicais a noção de um rio que se demora nas margens Quando te despiste quase inocente numa povoação de sílabas não desnudaste o mais íntimo da pele ficaste em vigília ao improvável tão perto dos mastros onde dardejam pássaros e profanam metáforas eufrázio filipe
Crescemos na nudez das rochas crescemos e desmaiamos conforme as marés vertemo-nos líquidos em caudais de sons ardidos no sal no delírio da espuma por todo o corpo crescemos na substância das pedras com asas muito leves não somos barcos de carregar velas somos mareantes do vento "chão de marés"
Estavam no cais os barcos adormecidos etéreos quando partimos por sobre as águas sem fim à vista foi assim lá onde os olhos sem amparo se consentem demorados assistimos à passagem de um sopro de vento Neste leito de sussurros a primitiva chama navegava todos os degraus da escarpa foi assim tresmalhadas as pátrias e os amores chegámos à fala de mãos dadas no íngreme caminho das pedras eufrázio filipe
Nem todos os jacarandás rebentaram em Maio mas tu cumpriste o ritmo das estações contra o tempo que faz vestiste-te de púrpura com cheiro a hortelã sentaste-te no meu silêncio preferido dedos esguios em flor a crescerem nas teclas do piano nem todos os jacarandás rebentaram em Maio porque não existem horas para amar porque é possível pintar uma flor com a boca na tua boca e ficar assim eternamente a respirar eufrázio filipe "Chão de claridades"