quinta-feira, 17 de março de 2016

SEREIAS NO SEU REFÚGIO





Feríamos a água
de tanto remar
e nem sabíamos bem porquê

estávamos no tempo dos jacintos
e queríamos inexplicavelmente
ouvir a sabedoria das marés
a respiração dos sapais
semear gestos nos sulcos da água

Clandestinos lá fomos devagar
à descoberta do princípio do mundo
prateados como os olhos dos peixes
e os arados

humedecidas pela brisa
lá estavam as sereias no seu refúgio
em lençóis de linho e púrpura
sitiadas à nossa espera
a cantar os novos impérios

e nem sabíamos bem porquê

Eufrázio Filipe

(A profanação das metáforas)

20 comentários:

SOL da Esteva disse...

Metafóricamente belo!



Abraço
SOL

Marta Vinhais disse...

Escapa-se o sentido do Universo...E as marés têm tanto a revelar...
Lindo..
Beijos e abraços
Marta

Unknown disse...

Olá, Filipe
Desbravadores de marés e sereias...

abç amg

anamar disse...

Leio-te sempre em voz alta.

Gosto de ouvir o bater das palavras nos meus ouvidos.

Abracinho :)

Olinda Melo disse...


Por mares nunca dantes navegados...

Abraço

Olinda

lupuscanissignatus disse...

sedutor canto que embala os sentidos

Anónimo disse...

belo poema em louvor das Sereias!

mas em verdade, em verdade te digo - com Valquírias é que eu gosto de me entender ...

abraço, Poeta e meu Amigo.

M.V.

Miss Smile disse...

Tanto mar na sua poesia...

Um beijinho

Emília Pinto disse...

As pedras sem vida também fazem parte da nossa vida e nem precisamos de as inventar; estão por todo o lado espalhadas e com cautela caminhamos para não tropeçarmos. Um novo barco nos espera a cada amanhecer e lá seguimos nós neste mar da vida sempre esperando que sereias nos acompanhem e nos protejam. Por mais que perguntemos às marés tão sábias,o destino do barco depende sempre da impresivilidade do mar. Há sempre ondas gigantes e raivosas e há também, amigo, muitas e muitas pedras.
Há também sempre bela poesia neste mar
Bom fim de semana. Um beijinho
Emilia

Teresa Durães disse...

"Feríamos a
agua
de tanto remar
e nem sabíamos bem porquê",

lindíssimo

Jaime Portela disse...

E os impérios são sempre cantados, pelo menos antes de caírem...
Excelente.
Bom resto de domingo e boa semana, cario amigo Eufrázio.
Abraço.

rosa-branca disse...

Enxertar cravos com rosas não dá...as rosas têm espinhos...Belo demais o seu poema. Li, reli e adorei. Beijos com carinho

Suzete Brainer disse...

Os belos sentires poéticos não precisam
de porquês!...

Agostinho disse...

O poeta continua a lavrar fundo
a soletrar os remos nas palavras
para que haja destino no ar
que respiramos
Sabemo-lo bem e por quê.

Graça Pires disse...

"E nem sabíamos porquê"
Nenhum mar existe sem a silhueta dos barcos. São eles que nos transmitem "a sabedoria das marés". Tão belo, o poema, amigo.
Um beijo.

Manuel Veiga disse...

abraço, Poeta

o Heretico decidiu reabrir os comentários
sabes quanto apreciamos a tua presença

M.V.

Laura Ferreira disse...

quando era miúda queria ser sereia :)

ana disse...

Gostei muito.:))

manuela baptista disse...

este é o tempo dos jacintos, das túlipas e dos narcisos


das sereias, também

Odete Ferreira disse...

Quando há uma força indómita, apenas se avança, o porquê está no ADN e, pouco a pouco, sobem-se degraus. De vez em quando, quedamo-nos em patamares (sempre intermédios) para nos deixarmos encantar pelas sereias... Depois, prossegue-se o caminho...
Seduziu-me este poema...
Bjo, Filipe :)
(A propósito: há já muito tempo que adotei o tratamento do tu nos meus comentários, pois nunca sabia quem tratava por tu ou por você; foi opção. Na sequência, também se podem dirigir a mim usando o tu.)