De passagem pelo eco ciciado da casa onde florescem cravos paisagens de carne e osso o rio para salvar o retrato íntegro do silvo dos barcos transportava palavras navegáveis folhas de arremesso aos guardadores de rebanhos
De passagem cansado de ser rio exilou-se no mar
ainda tentou roubar-te uma lágrima solta
mas os teus olhos estavam enxutos na palma das mãos
Quando na limpidez dos silêncios esculpida no espaço dançaste em pontas num palco de areias por sobre as videiras mais leve que o vento eterna por um instante despida de tudo neste mar de terra arada eu já tinha a tua sombra projectada num lençol de linho só me faltava a luz em arco construir pontes para não ferir as águas eu já tinha a tua sombra quando em silêncio as escarpas vindimadas te colheram em pleno voo livre musical num sonho de mãos inteiras flores azuis e uvas maduras nas paredes da casa onde se deitam os meus olhos só faltas tu imensa breve seara
Quando as realidades e o poema despontam escrevemos no papel das paredes verdades improváveis palavras de carne e sonho surpreendemo-nos em todos os apeadeiros sem empecilhos de margens nem destinos deixamos nómada o rio à flor da pele o teu corpo anfiteatro onde os pássaros crescem em coro e as minhas mãos
Deste tempo guardo a ambiguidade de algumas pedras onde o silêncio exalta o contorno das paisagens sibilinas
Revejo nos mais elementares esconderijos os teus bosques preferidos