domingo, 27 de outubro de 2013

O PÃO CRESCEU NAS NOSSAS BOCAS



                                            publicado no meu  "Para lá do azul"



Ver-te assim tão indecifrável
nos contornos e nas arestas
ancorada nas marés
em chama viva
a entrar pela casa vazia
sem desistir do silêncio
a resistir mesmo quando doem
os passos e as pontes
fez-me pedir ajuda
a um cântaro de água fresca
às pedras que cantam e tropeçam
nos pés das videiras

foi assim que nos despimos
e vindimámos
para os barcos cumprirem
o seu efémero destino

As uvas morreram nas tuas mãos
mas o pão cresceu nas nossas bocas


 

22 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

...mais um belo quadro, pintado com versos!

Um dia, em todas as bocas, o pão crescerá sem que as uvas morram

anamar disse...

Há muito que te não lia em alta voz...

Abracinho grande

Elvira Carvalho disse...

Quem dera não tarde o dia em que o pão cresça em todas as bocas.
Um abraço e uma boa semana

jrd disse...

Do pão e das uvas: a poesia a saber a mosto.

Abraço

lis disse...

que assim seja_ bocas alimentadas.
abraço

Canto da Boca disse...

O destino náufrago, que há de sempre ancorar no fundo do mar da poesia!

Arco-Íris de Frida disse...

A poesia sem sombra de duvidas é linda... mas me encantei com a imagem...

Sónia M. disse...

Decorei este poema, a primeira vez que o li. Consigo declamá-lo em voz alta, de olhos fechados. Não o fiz a propósito. A minha memória grava tudo o que mais me toca...
Este poema é belíssimo!


Sónia

trepadeira disse...

As pedras que cantam, para acordarem os homens.

Abraço,

mário

Armando Sena disse...

Os sensuais contornos de uma ambiente campestre a fazer adivinhar fartas colheitas.

Anónimo disse...

Perde-se alguma coisa em contrapartida ganha-se outras.Ainda que cambaleante, a vida é mesmo assim...

Ives disse...

Olá! Amei a poesia, aliás o blog todo!Se a Srta permitir a estarei seguindo, abração

Teresa Alves disse...

Um poema a ser saboreado vagarosamente, verso por verso. Alimento e fome. Uma combinação mais que desejada, alcançada.


Boa noite.

Manuel Veiga disse...

corpos vindimados, como barcos furtivos...

belíssimo, meu caro Poeta, caçador de metáforas.

abraço

Laura Ferreira disse...

e eu morri com este poema.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

cheira ainda a mosto e ao cheiro do pão...

e os pássaros ainda voam ...

:)

Suzete Brainer disse...

Um poema enigmático

onde navegamos por um

oceano poético irresistível...

ana disse...

Ainda bem que o pão cresce nas suas mãos porque cada vez há mais pessoas famintas (de liberdade, de razão, de humanidade).
Beijinho.

Janita disse...

A vida é efémera e as uvas morrerão, para delas renascer o líquido doce, dourado e quente, que será como fermento a fazer crescer o pão em todas as bocas.

Muito belo, este despir de preconceitos que faz cumprir o destino dos barcos, ainda que sigam um rumo com destino incerto...

Um abraço.

Ana Tapadas disse...

O poema é de um lirismo muito bem construído, numa imagética de amor e de esperança. Belo.

bjs

Maré Viva disse...

No mar ou em terra, que nunca faltem as uvas e o pão para nos matar a fome do corpo, mas também a poesia, para mitigar a sede do espírito.
Parabéns pela tua, que amei.
Abraço.

vida entre margens disse...

Para quê decifrar metáforas, se apenas contemplando se sacia a sede!!!!

Magnífico!!!

Abraço e dia lindo!