domingo, 14 de agosto de 2011

NEM TODOS OS CÃES SÃO DE BARRO (5)





                                                    publicado no meu PARA LÁ DO AZUL

Os cães choravam em silêncio
e eu não sabia porquê

Pensei no pobre limoeiro a afundar-se
lá onde nidificam toupeiras
ao entardecer
na estrêla persistente
que viceja à noite no portão
nos olhos claros de um certo azul
que ilumina a casa
no desfolhar emsombrecido
das roseiras

Vasculhei tudo
invadi searas proíbidas
até ao mais íntimo da pele

pó sombras sonhos

Perguntei-te - quando desaguas?

e tu desaguaste à janela
a marejar entristecida
e eu não sabia porquê

Foi quando os cães se levantaram
para soltar os pássaros



23 comentários:

Anónimo disse...

Certas janelas nos convidam a isso - como um chamado do por do sol.

beijinhos

Branca disse...

Sempre assombroso ler ou reler os teus versos Eufrázio.

Pareceu-me um novo poema este "Soltar os Pássaros", porque o espírito com que se relê e a beleza das metáforas fazem descobrir nele sempre novos contornos.

Sou uma eterna admiradora da tua poesia.

Beijos
Branca

Isamar disse...

A poesia sempre exerceu sobre mim um fascínio irresistível. Li o poema, degustando verso a verso e sonhando. É assim a magia da poesia e dos poetas.

Beijinho

Bem-hajas!

hfm disse...

Atenta à série!

OUTONO disse...

...depois da leitura...apetece um um voltar a ler...
Há encontros que encontramos de novo...há realismos onde nos demoramos...
É bom...!

Justine disse...

..e nesse momento, no voo dos pássaros, entendeste tudo!
Há sempre que aprender no universo dos bichos e das plantas.

mundo azul disse...

________________________________

Como comentaram os amigos acima... Cada leitura de um texto, traz-nos uma nova interpretação... Por isso, alguns textos, nos parecem sempre novos, a cada leitura!

Gostei!


Beijos de luz e o meu carinho...

____________________________

jrd disse...

É noite. Felizmente há luar...

Mar Arável disse...

JUSTINE

Estimada amiga
na verdade

"no todo se realiza o individuo"

Bjs

Mel de Carvalho disse...

Belíssimo momento, este, de reler "Soltar os pássaros" em tempo de verão.

A minha admiração e estima, Eufrázio, num abraço amigo, daqui, rente à falésia.
Mel

Karl disse...

A janela...
Lugar de entrada e saída... Lugar de onde se vê...

Anónimo disse...

A busca pelo saber daquilo que nos é preciso, é o que nos joga para a vida... seu poema é lindo.

Beijo

Virgínia do Carmo disse...

E como voam, tão belos.

Um abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

como comentar?!

porque choram os cães, e porque soltam os pássaros que se querem livres!

belissimo poema (como sempre)

um beij

Graça Pires disse...

Belíssimo, amigo!
Um beijo.

Laura Ferreira disse...

"A poesia é a criação rítmica da beleza em palavras." (Edgar A. Poe)
Belíssimo.

Anónimo disse...

Belíssimo texto.
Felicito pelo teu dom para a poesia e a regularidade e qualidade da sua prática.
Bom. Muito bom.
Um abraço

marlene edir severino disse...

E desaguamos à janela,
também por aqui:
olhos d'água,
rosto inundadado de mar...

Abraço!

Marlene

Sônia Brandão disse...

É sempre bom vir aqui e viajar pela beleza das suas imagens.

Abraços.

yaraeosol - yaralm disse...

Perco a respiração...

yara

A.Tapadinhas disse...

É assim com os pássaros soltos que a alma se liberta...

Abraço,
António

Li o seu comentário no blogue do amigo Rogério Pereira.

Canto da Boca disse...

nas lágrimas e nas ações têm mais mistérios e significados que jamais descobriremos... assim é/está essa bela sequência de textos.

;)

luiz gustavo disse...

arquiteto



(ag)ora
o cenário do céu
sem céu e que – as estrelas sabem –
o crepúsculo urra no tédio

eu – arquiteto de cárceres
da memória do cinzazul
desnudo

do que fui além distante

uma e outra
palavra se es-
vazia
no grito dos olhos
já fúnebres
a urdir a poesia

minha voz

amarga (n)os tentáculos
do tempo e as pedras
que me consomem

este poeta
de ecos desva
irados
(ex)pira e (ex)trai
(d)as rochas duras
(d)o seu caminho
a polir as unhas

ah ! há rugas no papel
entretecido
onde a poesia
a sorver labirintos de granito
explora todo sibilar
do seu enigma

a pedra se faz poema
e verte poesia
do próprio ventre
bruta não
- quase-paraíso -

mas fragmentos
sobre a língua
vestida de fantasmas
e viagens
como um gueto âmbar
sem saída

eu – arquiteto de cárceres
da memória do cinzazul
desnudo

do que fui além distante


www.escarceunario.blogspot.com