Já os cães tinham ladrado tudo
quando os pássaros se recolheram
em coro nos jacarandás
e tu chegavas alada
da ciranda
para repousar no parapeito
da minha janela
Aqui tão perto ressoavam
os meus silêncios preferidos
nas marés desgrenhadas
os teus olhos de púrpura
recolhidos em ânforas
numa feira de barro
para ficares mais leve de palavras
Sereníssima afloraste o velho alaúde
mas foi da escarpa onde te vejo
que nunca saberei quem és
a projectar réstias de sol
nas sombras vertebradas
que movem os teus dedos
43 comentários:
Cheguei
Os cães
em silêncio
acompanham os pássaros
por baixo dos jacarandás
Pé ante pé
sento-me a teu lado
escuto os silêncios
em silêncio...contigo
Silenciosamente
sopro-te no pescoço
levemente...
e retiro-me para a escarpa
sem me identificar
De lá
continuo a alimentar a vida
a projectar a luz
e a admirar-te
até que me reconheças
Serenamente
aguardo que chegues
num sopro imprevisto
princesa
Tardiamente, mas lido...
beijinho
:))
Mar arável
Começo a trabalhar cedo, este momento para dar uma espretadela, já é um intervalo.´
É uma boa forma de começar o dia lendo este belo poema.
Abraço
Quando a poesia se faz palavra!
A debandada sobre os jacarandás faz-se sempre em coro.
e neste movimento são a asa de um sonho. um beijinho, eufrázio.
Belissimo!
«Les choses visibles peuvent toujours cacher d'outres choses visibles»
Lindíssimos, poema e pintura.
Abraço
Meu caro POETA Eufrázio;
Belo poema; sublime, profundo, que nos catapulta para um mundo de emoções e nos transporta numa viagem poética muito agradável.
Gostei imenso.
Parabéns.
Um forte abraço.
Lindíssimo este poema de maresia que fala de emoções.
Abraço
Há beleza aqui: e eu contemplo!
Lindoooo
Beijos,
Viajamos a cada verso do teu poema. Parabéns.
Simplesmente,
magnifico...
Encontro sempre aqui aquela pureza marina...adoro
Um beijo Eufrazio
gosto muito deste poema! há um encantamento nele, nessa figura alada, como ave ou sereia sem ser ave ou sereia, «a projectar réstias de sol» na memória do silêncio e das marés.
abraço.
Em todas as esperas, é da escarpa que ressoam todos silêncios.
Muito belo!
Um abraço
Belo, como sempre.
Ai se também os corpos,e não só as sombras fossem vertebrados.
Um abraço,
mário
A sombra do pássaro
no cimo dos jacarandás.
Belo!
Abraço!:)
a Palavra poética - corpo do Desejo!
belíssimo
abraço, caro Poeta.
e ainda que de réstias se faça, o sol ilumina e dissipa as sombras.
Um abraço.
Engoli as palavras diante de um poema que me elevou do meu lugar-comum para um céu desconhecido repleto de poesia.
Lindíssimo, soberbo!
P.S
Estou a conhecer o Ary...
O que a palavra
leva de vantagem
sobre o lápís
o óleo ou a aguarela
é que
articulada com amor
soa sempre mais bela
sem perder na cor
Um voo no silêncio.
bj
E a minha sombra bateu asas!
Fiat lux! Isso que é propaganda avant la letre, o Criador anunciando a marca de fósforos para quando fossem inventados.
já os cães tinham ladrado tudo...
talento e palavras melodiosas.
bom fim de semana!
beij
Não é fácil falar dos poemas de Eufrázio, porque o ex autarca queima pontes, mas digo sem qualquer dúvida que Eufrázio Garcez é um dos poetas míticos da modernidade portuguesa contemporânea, pela intensidade particular da sua obra (quer considerada em conjunto, quer na simples leitura de um único dos seus versos). Os seus poemas são um autêntico cortejo do desassossego. Poeta que reescreve sem cessar, é criador/demolidor de uma gramática peculiaríssima. A infracção regula a pontuação, os padrões são sujeitos à sua consciente desorganização, o fluxo verbal se alastra animalizando o poema. O abalo que a sua poesia provoca é um dos mais intensos que a blogosfera lusa já sofreu. Muito Obrigado!
O teu poema é uma flor a enfeitar o meu domingo...
Que também tenhas uma prenda hoje!
Um corpo de mulher, quando movido a poesia, tem sempre asas...
Eufrázio, uma vez mais (de tantas repetidas), as suas palavras, impõem-me o silêncio pacificado que só experimento perante grandes obras, do homem, da natureza; impõem-me o recuo para poder ver o todo, impõem-me o movimento lento dos dedos (aqui a comentar) para que, no toque, não ocorra perturbar o recolhimento dos pássaros, o descanso justo dos cães (tão vivos são neste poema). E aqui fico, (sempre) maravilhada e grata.
Bem-haja
Mel
Mais um excelente poema.
Parabéns pelo teu talento poético.
Boa semana, um abraço.
.
Gostava muito de publicar, se me autorizar, nem que fosse um só poema seu naquele blogue que já conhece e de que Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade e alguns outros são "visitas" assíduas :)
Abraço.
Belíssimo poema, amigo! Parabéns!
Abraço
é depois dos sons repousarem que as asas se (re)quebram
e o silêncio se quer verbo.
belo poema!
Um poema onde a emoção se nos agarra à pele com dedos de mulher...
Um beijo, amigo.
A serenidade de uma tela perfeita, onde luz, som e cor se conjugam no vértice do bem dizer.
Um beijo
Para que o belo seja exaltado.
Grande abraço
Chego tarde mas atenta!
:)))
depois
soltamos os olhos
e as sombras entrelaçam
laços e dedos
...e os seus poemas!
um abraço
manuela
Das escarpas voam as aves que sonham!
Sempre o belo nas tuas palavras!
Abraço
Eufrázio
Meu amigo é dificil falar de seus poemas, estou a ler e fico de respiração suspensa. Existe um encanto muito especial.
Parabéns.
Beijinho
Sempre belas as metáforas da tua poesia nos mistérios do amor, porque o amor é um mistério...que não se explica.
Beijos
Branca
Belíssimo poema, em perfeita conjunção com a imagem de Magritte! Deixo abraços alados e azuis.
Velho alaúde!
Hum... atum bonito?
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